Capítulo 8 - A Excursão

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Ian estava sentado no banco do carona do carro de Emília. Estava tenso naquele lugar, abafado pelo calor. Ela não deu uma palavra no caminho da sala de estar da casa de Ricardo até entrar no carro. Apenas olhares de reprovação e fúria eram tudo que Ian conseguiu perceber.

Assim que ela sentou ao volante e fechou a porta, ele ouviu o barulho das travas descendo, trancando as quatro portas. Emília virou para ele com um sorrisinho malicioso:

— Não esqueça de colocar o cinto, gorducho. Eu detestaria se você sofresse algum tipo de acidente.

Ele virou de lado para puxar o cinto, afivelando–o e Emília ligou o carro, dirigindo até saírem do condomínio. Não levaria dez minutos para chegarem até a vila onde moravam, mas Ian percebeu que ela estava fazendo um trajeto diferente, um pouco mais longo, entrando em uma rua quase deserta.

Uma ou duas pessoas circulavam por ali, longe umas da outras. Ele não se assustou pela rua estar quase deserta, até porque sabia onde estavam. O que o incomodou foi a atitude de Emília. Ela parou o carro no meio–fio tranquilamente, deixando–o em ponto morto.

— Vai me dizer o que aconteceu, baleia?

— Eu já disse o que aconteceu, Emília.

— Não minta para mim! – ela gritou.

Ian encolheu em reflexo.

— Não basta a confirmação da Verinha? Só fui levar o celular...

— Acha que eu nasci ontem, garoto? – continuou, gritando. – mesmo que seja verdade, foi um pretexto! Vamos, me diga! Para onde vocês foram? Eu sei que você está metido nisso até a última gota de banha desse seu corpo disforme!

A tensão de Ian começou a dar lugar à raiva. Ele sabia que se Emília continuasse a insultá–lo, mais do que isso, a humilhá–lo, ele não iria ficar quieto. Mesmo correndo o risco de incentivar o mal que há em Emília, ao fazer isso.

— Emília, nós só nos escondemos e pronto. Acabou tudo bem.

— Tudo bem para quem? Eles perderam o voo. Vão ficar em casa atrapalhando os meus planos com Ricardo.
— Por que você pega tanto no pé deles? – a voz saiu trêmula, enquanto ele olhava uma das árvores que estava na frente do carro.

Emília pareceu surpresa ao ouvir a pergunta. Deu um risinho sarcástico, mas não deu qualquer resposta.

— Sei que a culpa é sua. Ou daquela nojenta loira. O nerd magrelo não teria essa ousadia de querer fugir. Ele tem medo de mim. Ele sim é esperto por saber quem é superior. Mas você e aquela irmã dele... vocês têm que entender que não se brinca comigo. Vou dar um jeito nela. E em você também, se continuar metido onde não deve. Este é um aviso. O primeiro e o último.

— Não tenho medo de você, Emília – ele disse, sentindo a raiva se estabelecer. – e nenhum de nós três tem culpa de nada.

— Não tem medo, gorducho? – ela segurou o rosto dele com força, apertando e se aproximando. – não tem medo, seu saco de banha?

Ian fez força para se soltar e Emília não resistiu. Soltou a mão e deu uma risadinha de prazer.

— Nenhum de vocês sabe realmente com quem estão lidando. Vou fazer o que for preciso para tirar esses filhos nojentos do meu caminho e quem sabe você não vai junto...

— Deixa eles em paz.

A raiva não dava sinais de deixá–lo. Ele sentia cada veia do seu corpo pulsando, a respiração forte, os dentes trincando. Olhar para Emília arrogante, ao seu lado, estava se tornando insuportável. Em movimentos rápidos, ele tirou o cinto de segurança e puxou a maçaneta da porta diversas vezes, tentando abri–la. Tinha esquecido de que elas estavam trancadas. Emília riu, sem fazer nenhum movimento brusco ou tentar impedi–lo.

Os Descendentes e a Ferida da Terra (Livro Um)Onde histórias criam vida. Descubra agora