Capítulo 20 - A Floresta das Lágrimas

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Depois de saírem do ginásio na lateral da Ala Principal utilizando uma das portas de travessia, Mabel e Estéfano caminharam pela ponte que ligava a Ala Pólux e a Ala Marina, na direção de onde tinham pousado quando saíram da Casa da Costa.

A menina observava as pessoas que se movimentavam, tentando dividir a atenção entre olhar para elas, admirar a vista e conversar com o pai. Ela notou que do seu lado esquerdo a pequena praia, cercada pelo morro em forma de C, terminava cercada por uma pequena porção de areia e conseguiu ver, à pequena distância, uma cidade.

Era parecida com as do seu continente, mas curiosamente ela notou que o lugar não possuía prédios, embora algumas construções tivessem mais de um andar. Nada naquela cidade tinha uma arquitetura que remetesse à algo corporativo.

- Que lugar é aquele, pai?

- É a cidade mais próxima do castelo de Sorin e foi construída principalmente para hospedar as pessoas que vem estudar e treinar aqui. Não é uma cidade das maiores, mas tem seu charme.

- O acesso ao castelo é difícil, não? - perguntou a menina ao lembrar de Ian fazendo o mesmo comentário quando chegaram.

- Não é difícil, mas também não é fácil. É importante que um lugar como esse tenha seu isolamento. É o lugar que abriga o Regente, além de ser o pólo de treinamento mais estruturado e respeitado de Terraforte. As pessoas conseguem chegar através das portas de travessia ou utilizar os transportes que ligam aquela cidade - disse, apontando. - ao castelo. Uns utilizam meios de locomoção mais diversificados. Existem criaturas no continente que ajudam bastante nisso.

- Essas portas são fantásticas, pai. Ainda não estou acreditando em uma coisa dessas!

Estéfano sorriu.

- Depois de tudo que você já viu ainda se surpreende?

- É que cada hora surge algo novo.

- Você ainda não viu nada. Mas terá tempo. Terraforte agora também é sua casa, você poderá vir e até mesmo morar aqui se quiser, um dia.

- Sério?

- Claro. Agora que você sabe da verdade, pode usufruir dela.

- Ah, claro, pai. Falar é fácil. Digo o que para a mamãe? Aliás, agora que falamos nela... ela sempre soube desse lugar, né? Quero dizer, eu sempre tive o cabelo verde e ela deve ter se perguntado o motivo.

O semblante de Estéfano mudou. A tristeza se instalou e a menina ouviu um suspiro fraco.

- Contei para sua mãe quando ainda namorávamos e embora ela não soubesse lidar bem com isso, tivemos um casamento feliz. Quando você nasceu, já sabíamos sobre Zero e o projeto de contenção já tinha começado. Ela não reagiu bem

à minha ausência frequente. Tive que trabalhar muitas vezes deste lado.

- Você nunca foi engenheiro, né?

- Não. E a gota d'água veio quando você nasceu. Ela quase surtou quando viu seu cabelo daquela cor. Depois disso nosso casamento durou só mais alguns anos.

- Sinto muito, pai.

- Eu que sinto muito, minha filha. Me desculpe por não conseguir.

- Você não tem culpa de nada! Nenhum de nós, eu acho. Eu não pedi para nascer assim e imagino que deva ter sido difícil para ela lidar com esse novo mundo. Ela sempre foi distante, acho que agora sei o porquê - concluiu, fazendo o mesmo semblante que o pai.

Os Descendentes e a Ferida da Terra (Livro Um)Onde histórias criam vida. Descubra agora