Capítulo 22 - O Maior Medo de Norah

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Norah e Xaviera tinham acabado de atravessar uma das portas de travessia, na Casa da Costa. Estiveram o tempo todo acompanhando o treinamento de Higino, à distancia. Embora a irmã do garoto tivesse mostrado interesse em ajudar quando viu seu irmão em desvantagem, a general não permitiu que ela fizesse qualquer coisa. A sensação de impotência foi difícil de ser controlada pela menina.

— Observar também faz parte de um treinamento - disse Xaviera, ajeitando alguns fios de cabelo que estavam fugindo da trança única.

— Ele quase morreu! - respondeu Norah, ainda se recuperando do que tinha visto.

— Todo ser humano corre esse risco dia após dia, nós em especial, dado os últimos anos.

— Você entendeu o que eu quis dizer, Xaviera.

— Você não tinha por quê se preocupar. Viu o que seu irmão pode fazer...

— Impressionante - a menina parou para refletir por um momento. - não sabia que ele tinha tanta força.

— Você também tem, Norah. Só precisa de um empurrãozinho. E vai poder manipular a água em qualquer estado além do líquido. Além disso, você ficou transtornada em vê-lo correr perigo. Percebe quanta bondade há em você?

Norah franziu a testa.

— Como assim?

— Você é menos durona do que pensa. Eu sei que existe uma menina aí dentro que transborda amor e que está doida para sair. Apenas queria que você também enxergasse.

— Você não sabe nada sobre o que eu sou por dentro - rebateu Norah com deboche. Havia uma ponta de tristeza na resposta, também. - então foi por isso que ficamos observando esse tempo todo?

— Foi sim. Me diga, não está feliz pela atitude que teve?

Norah estava. Sentia um calor no peito, um sentimento tenro e aconchegante que pôs um sorriso tímido em seu rosto. Ela o disfarçou para não admitir que a general estava certa.

A menina sentiu-se grata pela oportunidade de ver um outro lado seu que ela mesma não lembrava mais. A cada ano que passava ela se sentia pior. Mais arrogante, mais isolada, mais má. Um pai bondoso e um irmão gentil debaixo do mesmo teto todos os dias não fez diferença para ela.

Assim como Higino desabou com a morte de Caroline, Norah também o fez. De um jeito completamente oposto ao irmão, mas nem por isso menos legítimo. Ela compartilhava da mesma raiva ao descobrir a verdade sobre a morte de Caroline e mais uma vez sua reação foi diferente da postura de Higino.

Ela queria encontrar Zero e fazê-lo pagar, mas o pesar em seu coração vencia de longe a vontade de se vingar. E isso ela achava irônico. O tímido e gentil irmão estava possesso. Ela, que sempre fora extrovertida e abusada, estava em um luto que invadia sua alma e a calava mais do que a exaltava.

Lágrimas quentes escorreram pela face e ela não se incomodou em secá-las. Xaviera sorriu ao notar o rosto molhado da menina.

— Se essa história de gêmeos serem parecidos em muitos aspectos for verdade, fico mais ansiosa ainda para ver o que você tem para mostrar.

— Não espere muita coisa – disse Norah, fungando.

As duas caminharam por um corredor semelhante ao que levara os descendentes até o ginásio do terceiro andar da Ala Principal. Norah sentiu o ar mais fresco, como se estivessem perto de uma praia.

Os Descendentes e a Ferida da Terra (Livro Um)Onde histórias criam vida. Descubra agora