Capítulo 6 - A Fuga dos Irmãos

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Era sexta–feira e Ian caminhava na calçada com Higino e mais dois amigos. Tinham acabado de sair da escola e todos estavam tranquilos por terem entregue os trabalhos de fim de semestre. O calor tinha dado uma trégua, mas o sol ainda estava forte para um dia de inverno.

Apesar da descontração, só dois deles estavam realmente se divertindo naquele momento: Limão, um menino alto e magricela, cheio de espinhas que vestia roupas largas e Tartaruga, um menino baixo, com cabelo em formato de cuia e uma mochila cheia de bottons e penduricalhos. Os dois conversavam eufóricos sobre quais seriados iriam assistir durante as próximas duas semanas de férias.

Ian estava tentando disfarçar a cara de preocupação enquanto os meninos se animavam e não notou que Higino fazia o mesmo. A última coisa que lembrava era de ter visto Julliette na caverna com os olhos brilhando e uma sombra atrás dele. Forçou um pouco a memória. Você não devia estar aqui, menino, gelou ao recordar a expressão fria no rosto da vizinha.

Estava confuso. Em um primeiro instante achou que estava sonhando, mas deu conta de que era real. Ela olhara de uma forma estranha para ele naquela mesma noite, horas antes na sala. Agiu de modo suspeito desde que ele acordou naquela madrugada quente e a viu na saída da vila onde moram. Ele vai chegar a qualquer momento.

— Quem é ele? – se perguntou. – por que ela tinha aquele brilho nos olhos? O que fazia lá? Quem é ela?

Ian forçou tanto o pensamento que sentiu uma pontada na cabeça e deu conta de outra coisa: a dor nos olhos tinha sumido. E misteriosamente o arranhão na lateral da barriga também. E ele não sabia como foi parar em casa depois da última noite. Acordou na manhã seguinte assustado com Joana chamando seu nome porque estava atrasado para a aula.

A mãe nada desconfiava sobre o que tinha acontecido. Durante o caminho para a escola refez mentalmente todos os passos, procurando pistas do que podia ser aquilo tudo. E o que mais se repetia em sua cabeça era a lembrança de ter perdido as forças quando a sombra apareceu atrás dele.

Ian acreditou que tivesse desmaiado e ficou se perguntando como ele estava ali, naquele momento, ao lado de seus grandes amigos, sem dor e sem arranhão. Tinha muitas perguntas, mas nenhuma resposta lógica vinha em sua cabeça.

— Vamos, Ian? – perguntou Limão.

Ian se assustou com a pergunta. Tartaruga riu:

— Está assustado com o quê?

— Não estou assustado... só estava distraído, Tartaruga. Vamos para onde, Limão?

— Fazer uma maratona de O clube dos corações partidos lá em casa. A gente compra a pipoca e os biscoitos e o refrigerante é por minha conta! – disse, se empolgando.

Higino deu uma risadinha.

— Bem que eu queria. Trocava tudo para ficar vendo seriados com vocês. Mas hoje à noite eu e a minha irmã vamos viajar, esqueceram?

— Nem acredito que você não vai amanhã na excursão com a gente. Cara, aquela sua madrasta é uma bruxa! Ela quer mesmo se livrar de vocês, hein – enfatizou Limão.

— Ela é ruim, sim... dá pena do meu pai – disse Higino. – mas ele gosta muito dela. Fazer o quê...

— Para onde vocês vão? – perguntou Ian.

— Ela não quis dizer. Só falou que vai ser surpresa e que vamos gostar muito.

— Já sabe que ela vai te mandar para junto dos pingüins lá na Patagônia, né? – brincou Limão. Os quatro riram.

Os Descendentes e a Ferida da Terra (Livro Um)Onde histórias criam vida. Descubra agora