Na sexta-feira, Rafaelo estava angustiado bem mais do que os dias anteriores. Era véspera da partida para a Ferida da Terra e desde que eles viram as anotações no caderno de Caroline ele mal dormira. Também mal se alimentara e a academia tinha ficado totalmente de lado.
Gota foi o único que conseguiu fazer sua mente sair um pouco da realidade conturbada ao trazer sua bolinha verde para brincar algumas vezes. O garoto pensava nos generais, tentando mascarar uma parte do enorme cânion, sem sequer saber o que estavam se esforçando para esconder. Sem saber que estavam mais perto de Zero do que imaginavam. Sem saber o perigo que corriam.
Ele só não se desesperava porque eram os generais do Regente e tinham força para se virarem. Mas Zero era perigoso e manteve a Ferida da Terra escondida por milênios, eles tinham quase certeza. Só alguém realmente forte poderia ter condições de algo dessa magnitude.
Era fim de tarde e o céu misturava laranja com um rosa vivo no horizonte. Ele estava sentado no balanço de um parquinho que ficava em uma praça perto da praia da Birutinha.
Mais cedo ele tinha ido até onde ficava a caverna e ficou um longo tempo observando, sentado na areia enquanto se bronzeava. A caverna estava coberta pela maré e por um breve momento ele sentiu um impulso de pular no mar e nadar até lá, mas acabou desistindo.
— Calma, Rafaelo, amanhã você vai estar lá – pensou, ansioso, enquanto seu cabelo despenteava brincando com a brisa que vinha do mar.
Agora estava ali, pensativo. Nem reparou em algumas meninas que passaram por ele, olhando, na tentativa de um flerte. Em outras ocasiões, ele estaria se exibindo sem camisa, fazendo uma cara de dono do mundo que Rafaelo sabia fazer bem. Naquele momento, no entanto, era apenas um garoto de bermuda e sem camisa – não pelo exibicionismo, apenas por causa do calor – refletindo sobre o rumo da própria vida.
Ele estava completamente desconfortável com aquele clima estranho. Não sabia definir aquela tensão, mas sabia que era esquisita. Tinha algo no ar, ele podia farejar. Talvez fosse apenas a ansiedade, o imprevisto por anteciparem a partida. Embora fosse no dia seguinte, aquela véspera se arrastava como se o dia tivesse setenta e duas horas.
Distraído, Rafaelo não viu quatro adolescentes dobrarem a esquina, à frente. Duas meninas e dois meninos caminhavam alegremente, rindo e conversando. Não eram todos da mesma turma da escola, mas se davam muito bem como se estivessem sempre juntos.
Quando um deles viu Rafaelo sozinho, parou de repente com susto e imediatamente avisou o amigo. As meninas olharam na direção do garoto no balanço, também surpresas.
Os dois meninos apertaram o passo e as duas meninas foram atrás. Rafaelo só notou a aproximação de Manolo e Cássio quando eles já estavam entrando no parquinho. Jéssica e Angelina estavam com eles. Ele continuou sentado, sem esboçar nervosismo ou outra reação.
— Olha quem está aqui pegando uma brisa, Cássio – disse Manolo, cantarolando com deboche. As meninas observavam Rafaelo com desprezo.
— Aproveitando o sol, Rafaelo? – perguntou Cássio.
— Está um dia gostoso – ele respondeu.
— Onde estão seus novos amigos? – perguntou Manolo, com repulsa.
— É, onde estão? Eles já descobriram o quanto você é traíra e te deixaram sozinho? – perguntou Cássio.
Jéssica e Angelina deram uma risada de desdém.
— É, cadê aquela vadia da Norah? Ela também virou amiga deles – disse Angelina.
— E aquela menina nova que entrou também está com eles – complementou Jéssica.
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Os Descendentes e a Ferida da Terra (Livro Um)
FantasíaA Ferida da Terra precisa ser contida. O tempo corre. A situação piora. Mas o que ela é, Ian não sabe. Ele não sabia nem mesmo da existência de um novo continente, vizinho ao Brasil, assustadoramente mascarado por uma magia que não poderia ser denom...