Capítulo 17 - Os Quatro Dirigentes

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Ian estava de volta ao quarto, na manhã seguinte, sentado em uma das poltronas e Mabel estava olhando o ferimento na testa dele que estava enfaixado, mas deixava transparecer uma fraca mancha de sangue.

— Está melhor?

— O que aconteceu?

— Encontraram você desmaiado na sala onde fica a adaga.

Ele levou a mão à testa, mas foi interrompido pela menina:

— Não encoste no curativo. Disseram que ele abriu completamente.

— Mas não tinha cicatrizado? Eu nem sentia mais dor.

— Se você que estava lá, não sabe, imagina eu...

— Não lembro de muita coisa. Tinha alguém com um capuz, tentou usar a adaga...

— Como assim? - perguntou Mabel, preocupada.

— Eu acordei de madrugada com sede... - mas Ian foi interrompido com uma batida na porta. Higino, Norah e Rafaelo entraram, caminhando até eles, aflitos. Dava para notar o medo nas feições dos irmãos. Rafaelo era o único que conseguia disfarçar, embora estivesse desorientado.

— Como você está? - perguntou o irmão de Norah. Sua voz saiu falhada.

Ian olhou bem para o amigo. Higino chorara a noite inteira e o mesmo acontecera com Norah. Seus rostos continuavam vermelhos, inchados, esgotados.

— Estou bem, eu acho. E vocês?

— O que você acha? - perguntou Higino, a voz chorosa e triste.

Norah respirou fundo e tirou alguns fios de cabelo da bochecha, que tinham agarrado por causa das lágrimas. Ela se aproximou de Ian, mal conseguindo encará-lo. O que ela disse a seguir causou espanto em todos:

— Me desculpe. Por tudo. Esses anos todos, tantos insultos... - ela fez uma pausa.

— Norah... - ele começou.

— Deixa eu terminar, por favor - ela disse com dificuldade, sem levantar os olhos.

— Fui estúpida. Mimada. Feri tanta gente com as minhas palavras e as minhas atitudes. Me desculpe, Ian. Você também, Mabel. Para falar a verdade, acho que você se veste muito bem - ela deu um sorriso, o mais bonito e singelo que os quatro tinham visto dela até aquele momento. - e você, meu irmão... tão gentil, nunca foi um fracassado. Eu sim. Fiquei arrasada quando nossa mãe morreu e ontem foi a gota d'água. Não posso continuar agindo como antes. Depois dessa noite abri meus olhos. E sei que a mamãe gostaria de ver uma filha do bem.

Lágrimas discretas correram pelos olhos de todos.

— Está tudo bem, Norah - disse Ian. - todo mundo tem problema. Estamos juntos. E apesar das dores, o que estamos vivendo agora é muito especial. Nenhum de nós vai esquecer.

A menina sorriu. Mabel também tinha o que dizer:

— A primeira coisa que eu pensei quando te vi foi nossa, como essa menina tem bom gosto!. Eu já sabia que alguém com um olhar tão bom para moda não poderia ser uma pessoa ruim - ela deu um sorriso.

— Essa noite foi muito longa para nós - disse Higino. - e fez com que a gente avaliasse muitas coisas. Eu também queria pedir desculpas para você, Ian, por ter agido como agi. E para você, Rafaelo. Eu me excedi na Casa da Costa e podia ter ferido vocês.

Os Descendentes e a Ferida da Terra (Livro Um)Onde histórias criam vida. Descubra agora