Capítulo 2 - A Casa da Costa

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— Eles estão lá – a atendente da farmácia apontou para uma seção nos fundos.

Mabel virou para o lugar indicado:

— Obrigada – sorriu e caminhou na direção dos produtos.

A menina ajeitou com cuidado a boina azul turquesa que cobria o cabelo castanho-escuro, liso e comprido. Andou pelo estreito corredor e parou na frente do que procurava: diversas embalagens de tintura capilar estavam à frente, em infinitas tons e com nomes que ela sempre achava graça ao ler.

Não demorou para encontrar a tonalidade que buscava. Era hábito pintar os fios volumosos desde que era muito nova. Pegou a embalagem e andou até o caixa, entrando em uma fila curta, com apenas uma pessoa. Ficou um tempo mirando o produto, mas o olhar era distante.

— Não se preocupe. Essa marca é boa e não vai estragar seu cabelo – a voz de uma idosa alcançou seus ouvidos, tirando-a do transe.

— Ah... Que bom, né? – respondeu risonha e um pouco surpresa.

A atendente chamou a mulher mais velha para ser atendida e Mabel deu alguns passos enquanto alisava as pontas do cabelo.

— Você é uma menina muito bonita. Bem que eu gostaria de te apresentar para o meu neto. Que lindos olhos verdes! E essas sardas te dão muito charme, minha jovem – disse, sorridente.

— Ah... Eu... Imagina... – o rubor se espalhou pelo rosto.

— Não fique vermelha. Só estou brincando. Com certeza você deve ter um namorado.

— Não tenho, senhora.

A atendente deu uma risadinha discreta ao presenciar o afável diálogo.

— Prazer em conhecê-la, mocinha.

— Igualmente – encerrou Mabel com um sorriso. A idosa saiu, caminhando com lentidão e cantarolando algo que nem Mabel e nem a mulher do caixa conseguiram ouvir.

— Ela sempre puxa assunto – disse a funcionária enquanto registrava o produto para cabelos.

— Ela é muito simpática.

— Esta senhorinha sempre vem aqui, mas quase nunca compra. Acho que ela vem mais para conversar e ter alguma companhia – disse, colocando a tintura em uma sacola.

Mabel deu uma risadinha, agradeceu o atendimento e pegou a sacola, saindo. Andou por uma rua tranquila e arborizada. Do outro lado, uma praia. Passava das três da tarde e a movimentação era pequena. Depois de caminhar um pouco, parou, achando que seria uma boa ideia sentar na areia e admirar o mar, sem pressa de voltar para casa. Atravessou a pequena rua de asfalto e parou no calçadão.

O sol forte castigava as cabeças de quem se atrevia a andar na rua àquela hora, especialmente porque não havia sinal de vento, o que elevava o calor a níveis infernais. E Mabel odiava aquela sensação térmica exagerada. Odiava suar e sentir que a pele derretia debaixo do sol escaldante. Na aflição de buscar uma sombra, mal percebeu a mão que tocara seu ombro. E quando o fez, virou assustada:

— Conhecendo seu bairro novo? – era um homem.

— Oi, pai! – respondeu, surpresa e buscando relaxar em seguida. – na verdade ia até a areia admirar um pouco o oceano.

— Faz bem. É bom a gente estar de volta e você vai se readaptar bem rápido ao Rio. Aqui é lindo. Curitiba não era para a gente. Aquela terra fria não tem essa brisa maravilhosa que vem do mar.

Os Descendentes e a Ferida da Terra (Livro Um)Onde histórias criam vida. Descubra agora