Eram cinco horas da manhã quando o som do saxofone de Donald Stark invadiu o meu quarto me fazendo acordar naquele dia. Estiquei a mão a fim de desligar o despertador e sentei na minha cama dando tapinhas no meu rosto tentando despertar. Rapidamente lembrei-me da minha mãe e olhei para o lado: a menos de meio metro estava Letícia Blackwell encolhida na cama de casal, quase caindo no chão e tremendo de frio. Arrumei seu lençol até a sua cabeça e observei o quão jovem ela parecia dormindo.
Sempre desejei ser mais parecida com ela. Minha mãe tinha os cabelos loiros acobreados e leves como uma pluma, ela também tinha olhos azuis como águas cristalinas que a fez parecer tão jovem quanto eu, ainda que estivesse no auge de seus 45 anos. Eu era mais parecida com meu pai; olhos e cabelos cor de madeira escura.
Sabendo que minha mãe iria acordar três horas depois, levantei me arrastando até o pequeno banheiro para tomar banho e me vestir para o trabalho. Quando senti a água quente descer pelo meu corpo, suspirei feliz por finalmente Caio ter consertado aquele chuveiro - ninguém merece acordar de madrugada e tomar banho com água fria.
Enrolei-me com a toalha e fui até o quarto vestir-me. Assim que abri o guarda-roupa me deparei com as camisas sociais que Ivana havia me presenteado mês passado. Sabendo que eu já tinha usado todas nos últimos meses, escolhi uma branca com os botões azuis marinho e uma calça com a mesma cor do botões. Olhei-me para o espelho satisfeita com o que vi; quase todo o meu guarda roupa foi costurado por Ivana e eram tão bem feitos que poucas pessoas conseguem perceber que as roupas não foram compradas em lojas. Sou eternamente grata por ter conhecido aquela mulher, mesmo que em uma situação difícil da sua vida. Quase todo mês ela me fazia um traje novo, alegando que preciso me vestir bem até encontrar meu destinado.
Peguei os poucos itens de maquiagem que tinha e me deixei o mais natural possível. Calcei os sapatos de salto alto pretos com medo de me deixarem na mão, porque os comprei por um preço camarada. Fui à cozinha, comi torradas com leite e em menos de meia hora desde que havia acordado, eu estava pronta para o trabalho.
Fucei minha carteira e deixei cinco dólares em cima da mesa para que Jean comprasse alguma coisa para minha mãe e saí de casa às pressas para pegar o ônibus de 5h40.
As casas da minha rua eram pequenas, iguais em tamanho e todos faziam parte da Ala O. Mesmo ainda o céu estando escuro, as ruas estavam movimentadas; acordar cedo aqui era o mais habitual do que parece. A maioria das pessoas trabalhava em empregos simples como faxineiros e entregadores de jornal no outro lado da cidade. O meu emprego como secretária era visto como um prêmio que poucos abaixo da ala M conseguiam exercer.
Assim que cheguei ao ponto, o ônibus apareceu no final da rua. Entrei já com meu vale transporte em mãos e sentei-me pensando no outro ônibus que precisava pegar e o metrô. Antes das sete eu estaria na Coral.
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O centro da cidade onde eu trabalhava era repleto de prédios espelhados com estruturas arquitetônicas e o edifício da Coral não era diferente. O letreiro da empresa de cadernos tinha um brilho colorido que parecia se mexer conforme eu andava. Entrei no prédio, cumprimentei Mary e Daisy, as recepcionistas, bati ponto e tratei de ir ao sétimo andar começar meu trabalho.
Meu chefe era a pior pessoa quando se refere a arrumação e design, por isso sua esposa se encarregou de fazer seu escritório com as paredes amadeiradas. No começo tive a sensação estranha de estar em qualquer lugar menos em um escritório, mas com o tempo me acostumei. Sentei na cadeira giratória, liguei o notebook e arrumei minha mesa. O relógio do computador marcava exatamente 7h10, então, tratei de organizar os e-mails do sr. Carter e checar os recados.
Tinha completado dois meses de trabalho para Coral e por pouco consegui aquele emprego. O que sabia de informática aprendi na escola e nem sabia falar nenhuma outra língua; tudo que conhecia era de um cursinho gratuito oferecido pelo governo para jovens de baixa renda. O único motivo para está ali foi, ironicamente, um jogo de palavras-cruzadas.
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Our Worlds Collide [Primeiro Rascunho]
ChickLitNo mundo onde as garotas esperam pacientemente pelo seu destinado depois que recebem seu prazo ao 21 anos, Lydia Blackwell está ocupada demais tentando pôr a vida em ordem. Contas para pagar, uma mãe doente e um chefe que a enche de coisas para faze...