Capítulo 19

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"Essa vida é tão frágil como um sonho e nada nunca é realmente como parece ser." - As It Seems, Lily Kershaw.

Havia se completado quinze minutos desde que eu tinha desligado o celular após falar com os atendentes do hospital em que Jack estava internado. Após o susto e a longa noite que se seguiu, descobri que o tiro tinha atingido sua perna, mas não havia sido grave. Em poucos meses e várias sessões de fisioterapia, ele estaria novo em folha.

Thomas esteve todo momento ao meu lado, embora tivéssemos uma pequena discussão no meio do caminho. Ele não pareceu contente em ter que lidar com um traficante logo após um escândalo que nos permeavam, todavia deixei bem claro que não deixaria Jack na mão em um momento como aquele.

Calado o tempo todo, Thomas não respondeu nada além de "não está mais aqui quem falou" e se acolheu em seu mundo interno. Se não estivesse tão nervosa esperando notícias da cirurgia de retirada da bala no Woodreck, ficaria por boas horas titubeando o comportamento de Hoyer.

De manhã, após uma noite muito mal dormida, não encontrei meu destinado na cozinha como de costume. Rose me avisou que não havia o visto também, então deduzir que era algo relacionado com a viagem que ele faria à capital.

Com diversas coisas para fazer, não parei para pensar que esqueci de comentar com sobre o acordo proposto pelos advogados. Logo lembrei-me que teria que pagar a cirurgia de Jack, já que sua mãe continuava sumida.

Foi tudo isso que me levou a cena inicial em que fitava meu aparelho eletrônico sem saber o que dizer. Esperando um tombo da conta gorda do hospital, não acreditei quando, com todas as letras, o atendente deixou claro que Jack fora contemplado por um bom samaritano e que era desnecessário que eu pagasse.

O nome de Thomas brilhava em minha mente assim que desliguei o celular. Diante de tantos atos de bondade advindas do meu destinado aquilo não deveria me surpreender, porém, naquela situação, o peso da consciência deve ter influenciado sua atitude. Mesmo assim, não pude deixar de perceber que mais uma vez ele se adiantava e evitava mais uma dor de cabeça minha.

Eu não sabia como agradecer a ele.

E nem mesmo tive tempo para fazê-lo. O dia que se passou foi um dos dias mais corridos que presenciei na Coral.

Entre reuniões, ligações e problemas com o projeto que eu iria apresentar, pouco me lembrei de comer. Quase no final da tarde, Daisy apareceu no corredor do segundo andar com um cachorro quente na mão e me obrigou a me alimentar.

Por sorte consegui sair mais cedo para visitar Jack no hospital. Albert não pareceu feliz em ter que se virar sozinho com o novo contratante, mas ele sabia que era necessário deixar-me ir, já que não tinha nem mesmo saído para o almoço.

Desconfortável em ter que passar por uma dupla de policiais antes de entrar, mirei Jack comendo uma gororoba quando cheguei no seu quarto. Na TV velha, parecida com a que eu tinha em casa, passava algum desenho animado antigo da Cartoon Network. Sua perna direita estava cheio de ferros e se encontrava suspensa no ar. Ele me olhou e sorriu torto, então pude ver que o mesmo possuía alguns arranhões superficiais.

O choro subiu em minha garganta quando a ficha caiu finalmente. Jack, um adolescente que só tinha tamanho e irresponsabilidade, quase perdeu a vida por causa de uma péssima escolha.

一 Oh, Ly, não chora. Não sei lidar com gente chorando. 一 disse ele desconcertado 一 Eu tô bem, você não vê? Só foi um susto.

Limpei as lágrimas com aspereza antes de dizer.

一 Um susto e tanto, hein, garoto? 一 falei sarcástica 一 Espero que tenha aprendido a lição. O que você estava fazendo ali naquela hora, afinal?

Our Worlds Collide [Primeiro Rascunho]Onde histórias criam vida. Descubra agora