Capítulo 22

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"E há certas coisas que eu adoro e há certas coisas que eu ignoro, mas estou certo de que eu sou seu." - Certain Things, James Arthur.

— Detesto essas novelas — comentou Jack fitando a televisão do hospital.

— Eu gosto — falei sentada na beirada da cama e assistindo meu casal favorito de The Young and the Restless brigar.

— Ninguém é perfeito.

Ficamos nós dois em silêncio observando os personagens vivendo suas intrigas. Eu gostava daquele tipo de show de TV pela maneira genérica e clichê que ele funcionava. Tudo acabava bem no final, não importava o tamanho dos problemas.

Gostaria de ter essa certeza na vida também.

— O detetive Bane voltou para Missouri, sabia? — comentou Jack de repente — E me deixou com um tal de Garrett King.

— Ele é um cara legal, ao menos? — indaguei sem tirar os olhos da TV.

— Ele vai me levar para o Texas. Meus tios já se mudaram pra lá pela proteção à testemunha — disse ele — Assim que conseguir a transferência para outro hospital para mim, eu vou. Eles estão apressando o máximo.

Voltei a olhar para ele.

— E o que você pensa sobre isso?

— Penso que vou sentir sua falta.

Sorri segurando a mão cheia de arranhões já cicatrizados que ele tinha.

— Você terá uma nova chance, Jack. Poucos conseguem uma extra. Não a desperdice. — alertei com o tom de voz maternal — As coisas não vão ser fáceis, mas vão valer a pena. Prometo.

Ele deu um sorriso e lembrei-me de quão jovem ele era. Jack Woodweck tinha 14 anos e viveu coisas na vida que nem mesmo um adulto deveria presenciar. A vida lhe transformara para o mal e agora lhe dava uma nova oportunidade.

Era uma boa notícia depois da noite mal dormida que tive. Thomas não apareceu depois da nossa discussão e aparentemente não dormiu em casa. Rose disse que apenas o viu tomar café e sair quando chegou na mansão. Não aguentava ficar em casa esperando que Thomas me tirasse do escuro e, ao mesmo tempo, não tinha coragem de descobrir o que acontecia sozinha. Por isso, resolvi sair um pouco para desanuviar a mente.

Naquela manhã eu recebi uma caixa com alguns pertences que a polícia conseguiu salvar: um casaco de lã que um dia fora verde, um par de chinelos e metade da foto do dia do casamento dos meus pais. Felizmente dava para ver os rostos dos Blackwell sorrindo um para o outro na frente do fórum, logo após terem assinado a certidão de casamento. Lá também tinha a autorização de voltar para minha casa, porém Specter me alertou que até que o acordo estivesse devidamente assinado, era melhor continuar longe.

Fui até à Ala O, após visitar Jack, e passei um bom tempo encarando a porta lacrada da minha casa. O clima tinha ficado um pouco melhor, mas não deixava de ser extremamente frio. Andei devagar até a porta de Jean, pois sentia uma saudade absurda dela e de sua mãe. Eu gostava de morar na Ala A — lá era calma e me sentia segura naquele bairro — mas nada se comparava a dinâmica da minha rua.  

Bati a porta rapidamente e pus as mãos no bolso por conta do frio. Sabia que devia ter levado um par de luvas, mas na pressa acabei esquecendo. Logo, escutei o barulho das trancas sendo abertas e vibrei de ansiedade, doida para abraçar a minha amiga. Infelizmente, quem abrira a porta foi Caio.

— Oi, entra. — murmurou Caio saindo da minha frente como se eu tivesse uma doença contagiosa.

Percebi que ele estava mais magro e tinha um pequeno hematoma não tão bem escondido na região do pescoço.

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