Nota inicial:
Esse capítulo contém uma grande passagem de tempo, por isso peço que fiquem atentas.
"Lágrimas caem, e os sonhos se vão, a esperança se vai (...) Como, quando, onde e por quê? São questões que me impedem de te ver." Lágrimas, Jotta A.
Aos 26 anos eu já havia enfrentado mais batalhas do que tinha imaginado enfrentar quando era criança. E, acredite, eu sempre soube que a vida não era fácil. Meu pai era um homem cético e detestava mentir ou fantasiar a vida para mim. Esse princípio tem sentido, apesar de eu não concordar muito com ele. Nunca acreditei em Papai Noel, coelho da páscoa ou fada dos dentes. Steve Blackwell dizia que não fazia sentido trabalhar como um condenado o ano todo para dar o melhor para sua filha, e no final entregar os créditos a uma pessoa que nem existia. Aprendi desde cedo que a vida é difícil, injusta e que ela ia querer tirar tudo de bom que você tem, por isso eu teria que lutar com todas as minhas forças contra a maré que só queria me derrubar.
Amadureci cedo, não porque eu queria, mas porque era necessário. Tornei-me a provedora do meu lar no final do ensino médio, quando ninguém tinha mais coragem de dar um emprego a minha mãe. No ano anterior havia passado por tantos altos e baixos que imaginei não sobreviver, no entanto, descobri que existia uma força muito maior dentro de mim. Eu era feita de um material muito mais resistente.
Porém, eu não era feita de aço. Quando Tobias Hoyer deixou-me em algum lugar na Ala Z, ele não tinha devolvido uma mulher apenas cheia de ferimentos. Ele devolveu uma versão covarde, amedrontada e, acima de tudo, quebrada de Lydia Blackwell. Eu não era mais a mesma.
Eu tinha quebrado.
Aquela verdade se tornava real a cada dia que passava. Não conseguia sair de casa e pensar em outras coisas, além do mais, a única pessoa que eu desejava estar perto, eu também desejava que estivesse longe. O meu lar era os braços de Thomas, porém a semelhança dele com o irmão era de um nível tão assombrosa que a insanidade passou a dominar por constantes momentos do meu dia. Quando voltava a vida real, olhar para meu destinado em desolação doía. Eu via a culpa em seu rosto e todo e qualquer progresso que tínhamos em nosso relacionamento parecia estar em suspenso.
As memórias se tornaram um grande emaranhado de fios sem sentido, confundindo-me e machucando-me por dentro. A liberdade e intimidade que eu e Thomas tínhamos havia se esfarelado, tornando nossas conversas cheio de cuidados e delicadezas que antes não acontecia. Ele tentava não me machucar ou reativar a parte psicológica da minha mente que sentia medo de Tobias e eu fingia que não via seu sofrimento refletido nos seus tiques nervosos.
O mundo para mim era apenas a mansão na Ala A. Eu apenas saia para ir em direção a um consultório médico e passei a ter visitas diárias de uma psicóloga. Ainda não sentia pronta para falar sobre nada e boa parte do tempo chorava como uma criança em sua frente, ou ficava calada.
Eu tinha quebrado.
Constatei aquilo mais uma vez quando assisti o noticiário e descobri que os últimos dias estavam sim sendo um completo inferno para Thomas. Havia uma pressão gigantesca em suas costas por causa da liberdade dada de mão beijada a Daniel Fuller e cada vez mais se perguntavam sobre sua verdadeira faceta como membro do judiciário. Ao contrário do que a Lydia anterior faria, não conseguir falar palavras de ânimo para o confortar. Nem mesmo uma abraço eu me sentia capaz de lhe dar.
Foi durante uma ataque de histeria meu em que joguei um prato em direção à sua cabeça, acreditando falsamente que ele não era meu Thomas, que decidi que não dava mais para ficar ali cutucando a ferida com uma faca toda vez que o via. Conforme o tempo passava me sentia mais sobrecarregada emocionalmente, a sensação de que iria explodir culminando a cada segundo que se passava.
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Our Worlds Collide [Primeiro Rascunho]
ChickLitNo mundo onde as garotas esperam pacientemente pelo seu destinado depois que recebem seu prazo ao 21 anos, Lydia Blackwell está ocupada demais tentando pôr a vida em ordem. Contas para pagar, uma mãe doente e um chefe que a enche de coisas para faze...