Epílogo

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10 ANOS DEPOIS

"Talvez você nem esteja na busca incessante por alguém, e eu não estava perdida para ser encontrada, mas essa é a graça da coisa: se surpreender quando menos se espera."  Melissa Akemi, Eu não sou aquilo que você procura.

Eu folheava a álbum de casamento com um sorriso mal contido. As imagens de mim e de Thomas trajados de noivos levavam-me a uma miríade de memórias que enchia meu coração de amor. Planejar aquele casamento foi um desafio, um processo que foi um grande estresse para mim, mas que valeu muito a pena. Donald Stark foi o grande convidado da festa e fiquei tão animada que nem mesmo a presença dos pais de Hoyer pode estragar o evento. Foi uma das noites mais felizes da minha vida.

Eu tive uma sucessão de melhores noites da minha vida ao longo dos anos. É claro que houve brigas, discussões além da conta e momentos que eu gostaria que Thomas sumisse só um pouquinho, mas eu o amava demais para desejar que esse sumiço fosse duradouro. Só bastava ele sorri para mim para que eu desarmar. Infelizmente, nossos filhos possuíam essa mesma artimanha.

O barulho da babá eletrônica me despertou dos meus pensamentos e guardei o álbum na estante do escritório que eu dividia com Thomas. Andei com passos rápidos para o quarto do meu caçula, a quem ainda não havia nem mesmo completado um ano. Casey não foi planejado, mas não era menos amado por causa disso. Ainda era um desafio criá-lo, diante da deficiência com que ele havia nascido. Quando descobrimos sua situação, Thomas leu tantos artigos científicos e livros sobre autismo de maneira que ele aparentava ser expert no assunto.

Assim que coloquei Casey nos braços e comecei a niná-lo, escutei um grito feminino e C.J., de seis anos, cruzou o quarto do irmão sendo perseguida por Caleb segurando um sabre de luz.

— Nunca mais mexa nas minhas coisas, Chaia! — gritou Caleb, a quem sempre foi muito ciumento com os gibis que tinha.

— Mamãe, o Caleb me bateu! — disse ela choramingando.

— Ela tem que ficar longe do meu quarto, mamãe! — reclamou meu primogênito batendo o pé no chão. — Ela rasgou minha revista da Capitã Marvel. O papai comprou pra mim semana passada!

— Foi culpa sua! Você que puxou da minha mão — gritou ela já chorando — Eu não fiz nada, mamãe. Ele que puxou!

Como se a confusão não fosse suficiente, Casey começou a chorar mais uma vez e eu voltei a balançá-lo no meu colo.

— C.J., você não pode pegar as coisas do seu irmão sem permissão! É feio e errado — a repreendi seriamente.

Caleb, que tinha oito anos, olhou para sua irmã se sentindo vingado quando ela voltou a chorar desconsolada.

— A senhora é uma chata! Por isso eu prefiro o papai.

Bufei, já conhecendo aquele discurso que ela tentava burlar há um tempo. Caleb riu e mostrou a língua para sua irmã, o que me fez virar para ele com cara de poucos amigos.

— E você não pode sair batendo na sua irmã, Caleb. Você tem que protegê-la, não o contrário. Aprenda a dividir suas coisas também. Qual é o problema dela ler seus gibis?

Ele cruzou os braços e fez uma carranca. Seus cabelos escuros caíram em seus olhos azuis, lembrando-me que deveria levá-lo para cortá-los o mais rápido possível. Em meus braços, Casey tinha parado de chorar. Com a cabeleira loira encostada no meu ombro e o dedão na boca, ele parecia um anjinho assistindo a briga de seus irmãos mais velhos.

— Eu não vou dividir minhas coisas, *blöd. — reclamou.

— Blöd é você! — ela respondeu — Mamãe, olha o que ele disse!

Our Worlds Collide [Primeiro Rascunho]Onde histórias criam vida. Descubra agora