Capítulo I

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Parte Um

Era uma vez o fim da minha vida.

 Não! Isso não é sarcasmo, mas a constatação da verdade. Quem seria a louca de não cursar uma faculdade e se contentar com uma profissão mal remunerada, sendo que poderia estar ganhando bem? Essa foi uma pergunta de minha mãe quando eu disse que não pretendia ir para a universidade no próximo ano.

Motivos? 

Eu poderia listar:

1. Se o curso que (tecnicamente) eu quero não responder as minhas expectativas?

2. Participar de uma festa e morrer de overdose? Os filmes não mentem.

3. Eu tenho dezessete anos mereço viajar pelo mundo e conhecer outras culturas, isso é mais produtivo.

4. Se eu sofrer bullying? Não sou rica para pagar terapeutas.

5. Não quero ser considerada uma pessoa inteligente, mas não bonita.

6. Meu melhor amigo me abandonou.

7. Acho que minha irmã gosta dele.

8. Acho que o irmão dele gosta de mim.

9. Estou confusa.

10. Quero sumir.

Inicialmente a ideia era tentadora, quando Henry sonhava comigo. Mas, meu melhor amigo, primeiro amor e a única pessoa que realmente me atura, está completamente, absurdamente apaixonado pela minha irmã.

 Eu sei, foi terrível descobrir, principalmente por outras pessoas. Eu acreditava que éramos confidentes e que ele sentiria o mesmo que eu com o tempo.

Minhas vãs esperanças, construídas em um sonho mal imaginado. O primeiro menino que conversou comigo sem usar aquela careta de nojo que a maioria dos meninos com sete anos fazem, ele não se importava de brincar comigo. Não reclamava das implicâncias sobre ele ser meu namorado, Henry sempre ignorava, e eu adorava cada envolvimento, pois as outras meninas invejavam.

E tudo pareceu concretizar no dia dos namorados. Nossa professora Ellle pediu que escrevêssemos uma carta e desse um presente como um amigo secreto que nós mesmos deveríamos descobrir quem era. Naquele dia, eu havia implorado para minha mãe irmos à confeitaria comprar o doce que Henry adorava.

Os presentes com as cartas ficaram em um enorme coração onde a professora costurou bolsos. Eu observei detalhadamente todos irem até o coração e colocar os presentes, aguardando ansiosa a vez de Henry, quando minha irmã apareceu e interceptou o caminho. 

Eu pensava de modo egoísta que ele escreveria para mim, lógico que seria para mim, era sua grande amiga.

Entretanto, meu sorriso se desfez quando peguei meu presente e li a carta. Não era a letra dele, reconheci sendo de seu irmão Jason. Minha irmã, Kate, veio em minha direção feliz, pois seu amigo secreto tinha a convidado para brincar na hora do recreio. Eu arrisquei sorrir, tentando me alegrar com sua sorte, enquanto meu coração parecia machucado.

Coração machucado! Belo eufemismo, a verdade é que meu coração ficou devastado, quebrado, partido em milhões de pedaços que nem o tempo seria capaz de colar. Hoje eu percebo o quanto meus pensamentos eram radicais e imaturos. Todavia, eu assisti meu melhor amigo sorrindo para minha irmã, entregando-lhe uma flor, beijando seu rosto e segurando sua mão como se ela fosse sua preciosidade, como um mineiro quando vê pela primeira vez um diamante.

Meneei a cabeça querendo retirar o sentimento ruim que me assolava. Não me importei com a voz que gritava meu nome insistentemente quando fugi para a sala, onde sentada reli todas aquelas palavras que, na época, pareciam tão lindas e inteligentes, repletas de sentimentos que Jason sentia por mim. Guardei o papel e o presente sem abrir, eu não queria saber o que era, como se toda a minha curiosidade, esperança e alegria fugissem de mim.

Antecedentes das confusões da paixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora