Capítulo III

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Encarei o teto mal acreditando que havia dormido duas horas, era o que relógio marcava. Henry não estava deitado ao meu lado, provavelmente recebeu o telefonema de Jason ou Kate. Suspirei, sentando-me. Mesmo com o quarto pouco iluminado eu via nitidamente nossa foto na mesa de cabeceira. Havia sido tirada no ano passado, quando recebemos os resultados no colégio.

Nós sorríamos para a câmera que meu pai não cansava de carregar pelo dia inteiro. Sim, meu pai, Brandon, é um grande bajulador de Henry, acredito que isso deva ao fato de serem loucos por Química; as experiências e tudo que se possa ramificar dessa área.

Eu poderia ser ciumenta, mas também existiam interesses em comum com a profissão do meu pai, por exemplo, minha paixão secreta por perfumes!

E aqui estou mais uma vez floreando com um assunto aleatório, buscando fugir da verdade sobre quem estaria na casa. 

Sem muitas alternativas levantei, peguei meu pijama na mochila e rumei para o banheiro. Henry não se importaria se eu usasse sua toalha. Meia hora depois eu me sentia totalmente desperta. Peguei o celular notando a bateria fraca, eu não me lembrava da última vez onde guardei o carregador, geralmente eu tinha um moderado problema com tecnologia, acho que por isso nenhum teste vocacional correspondeu ao curso de engenharia.

Depositei o celular na mochila, sem muito entusiasmo para descer. Relutante, abri a porta do quarto, chamando alguém. Mesmo com quase dezoito anos tenho um pensamento muito negativo sobre ficar sozinha em qualquer lugar. Acho que tudo começou na infância, eu tinha medo que meus primos me trancassem dentro do armário e não gostava de brincar no parque. Uma vez fiquei seis horas desaparecida.

Vasculhei os cômodos esperando encontrar alguma alma viva, sentindo-me desprotegida, especialmente sendo noite. Quando criança eu também dormia com os meus pais na enorme cama de casal. Eles até imaginaram que eu fazia isso todas as noites por causa do colchão, até colocaram um em meu quarto, mas não houve grandes mudanças.

Então, eles decidiram procurar ajudar profissional, minha psicóloga era divertida, talvez mais leve  e fez um excelente trabalho, entretanto, não erradicou totalmente meu medo.

—Oi  — Disse após descer as escadas.

Havia apenas um abajur ligado na sala e silêncio nos demais locais da casa. Teimosamente, segui para a cozinha encontrando um bilhete de Olívia. Ela e o marido saíram para jantar fora com alguns amigos e voltariam somente no outro dia.

Ótimo! Mordi os lábios, talvez eu conseguisse um táxi há essa hora, a menos que os amigos dos pais de Henry sejam meus pais.

—Acordou.

Virei rapidamente para a voz, respirando aliviada ao ver Henry,  somente de bermuda e tinha o rosto amassado, provavelmente tivera dormindo no sofá.

—Quer me matar do coração? — Perguntei, dissipando todos os pensamentos inapropriados que surgiam a minha mente, incluindo o porquê de Henry ter saído do quarto e ido se deitar no sofá.

—Pensei que continuaria usufruindo do meu colchão. — Comentou.

—Não vai à festa? — Resolvi perguntar.

—E não aproveitar a sua companhia assistindo: Uma linda mulher? — Ele argumentou, sentando na baqueta, pegando uma laranja na fruteira em cima da mesa.

—Você odeia esse filme— respondi, aliviada por não ter que passar a noite sozinha. É claro, que algumas pessoas (se soubessem o sentimento confuso que nutro por ele) achariam minha resposta estúpida e que eu deveria dizer logo o que sinto. 

Antecedentes das confusões da paixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora