Capítulo VI

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Praticamente desabei na poltrona de mais uma loja, meus pés  dormentes e as botas com saltos não ajudavam. Meu rosto havia sido esticado, queimado, esfriado e novamente esticado no salão. Porém, meu cabelo continua ileso até a próxima semana.

Kate surgiu a minha frente com um vestido vermelho em mãos. Se eu corresse para o provador antes que ela conseguisse me encontrar era possível que eu escapasse dessa tortura. Sim, pegaria um táxi e iria a um bom restaurante. Depois seguiria para uma confeitaria e compraria muitas bombas de chocolate. Ao menos não ficaria em casa aguardando uma ligação que não aconteceria.

—Nick! — Minha irmã me chamou sacudindo o vestido.

Eu deveria ter seguido o plano ao invés de imaginá-lo. Levantei com um sorriso, torcendo para que as horas passassem rapidamente.

Só não imaginava que meu descanso viesse cinco horas depois.

Joguei a bolsa sobre a cama, evitando encarar o telefone no criado mudo. Finalmente, a escolha do vestido terminara, dando início aos ensaios quanto à cerimônia. Respirei fundo, sentando na poltrona próxima da janela. Vi minha irmã abraçar o noivo, levando os dois ao chão, as gargalhadas os acompanhando.

Um momento tão natural.

Eu teria um amor assim? Mágico o suficiente para que eu esqueça todos os problemas?

—Filha.

Desviei o olhar para a porta, encontrando meu pai com uma pasta em mãos. Ele entrou, sentando no colchão, o semblante indecifrável como sempre.

—Algum problema? — Perguntei.

—Pensei que estivesse ansiosa com as férias— ele argumentou, deixando-me confusa. —Poderia visitar Henrique, talvez conhecer a universidade seja boa ideia.

Mordi o lábio. Eu não queria férias, nem viajar para Nova Iorque, ou reconsiderar a universidade. Minha única preocupação consistia na ausência, cada vez maior, de Henrique. Como uma força oculta nos afastando a todo o momento, embora eu soubesse dessa instabilidade. Sentia-me ferida.

—Não, papai— respondi —Eu não pretendo sair daqui tão cedo, não estou frustrada trabalhando com o senhor ou algo do tipo— suspirei —Acho que essa história de casamento tem afetado meus hormônios— sorri —Quem mandou ser irmã da noiva e ainda madrinha?

Com a falta de Henrique, os noivos haviam concordado em escolher outro padrinho. Ele nem ao menos ligou para opinar, preferindo responder por e-mail que estaria na cerimônia como um convidado de honra.

E eu? Henrique não pensava no quanto seria importante tê-lo ao meu lado.

—Já que insiste— meu pai sorriu amável, deixando a pasta em cima da cama —Trouxe alguns relatórios para a próxima reunião, caso queria analisar.

Assenti, ganhando um beijo na testa. Somente quando a porta fora fechada, desfiz meu sorriso. O aperto no coração estava mais sufocante, meus olhos ardentes não queriam derramar uma única lágrima para dispersar essa aflição.

Quanto tempo demoraria?

Minha mente imaginava o casamento, eu estaria no altar e olharia para o lado do noivo, encontraria Henrique acompanhando. Uma loira, morena, ruiva? Não importava, já que ela o teria.

Levantei da poltrona, deixando que meu corpo desabasse sobre o colchão.

Nove dias para o casamento.

Nove dias para reencontrá-lo.

(...)

Joguei a bola para que Vincent fosse buscar. Do quintal ouvíamos a conversa desenfreada de minha mãe, Kate, Olívia, duas amigas de minha irmã e a equipe do bufê, enquanto experimentavam as sobremesas. Eu poderia estar em suas companhias, servindo-me dos variados bolos e doces. Porém, após a manhã inteira trancada em uma reunião, eu ansiava o silêncio.

Antecedentes das confusões da paixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora