Capítulo II

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O caminho para casa foi silencioso e meus olhos flagraram sua tentativa de controlar sua raiva ao apertar o volante, engoli em seco, esperava que seu pensamento não fosse suas mãos em meu lindo pescoço, bem.... Eu não me importaria de ter suas mãos vagando em outros lugares, mas... 

O que estou pensando? Balancei a cabeça.

Eu lembrava nitidamente da única vez que ficamos, havia sido na festa do irmão dele e estávamos tropeçando em nossos pés a cada passo, rindo de tudo e de todos. No outro dia descobriram que alguém batizou acidentalmente o ponche, mas a bagunça já tinha acontecido e rendido muitas confusões, inclusive para mim. Eu não era e não sou nenhuma puritana, mas naquela noite eu permitir meu coração ser feliz, mesmo sabendo das consequências.

Henry não lembrou nada sobre nós e eu fiquei calada, acusando meu coração de ser estúpido por tão pouco, embora a lembrança permanecesse. Virei o rosto para a janela enxugando as lágrimas teimosas, percebendo o carro parar em frente à minha casa.

Causa e consequência eram evitados por mim quando relacionados a esse passado.

—Eu não queria agir como estúpido, só que faz parte da minha natureza — ele disse próximo de mim, soltando meu cinto de segurança, obrigando-me a fita-lo. Sua mão deslizou minhas faces, sabia que meu nariz estava vermelho e que ele não compreendia o real sentido das minhas emoções.

— Não é uma decisão permanente, eu só preciso de alguns dias antes de começar as aulas na universidade, quando mudar de ideia apareço de surpresa no apartamento— ele sorriu, seus braços envolvendo meu corpo num caloroso abraço para depois sentir seus lábios em meu pescoço.

—Não posso perder minha melhor amiga.

—Eu tampouco mesmo quando sabemos que você possui outros melhores amigos — respondi, sorrindo, descendo do carro —Henry, por que você não convida a Kate para ser sua colega de apartamento? — Resolvi arriscar.

—Colega de apartamento? — Ele franziu a testa, abrindo a porta de casa.

—Acho colega de quarto, muito comprometedora— sussurrei a última parte, corando.

—Nick, você diz como uma garota virginal— apertou meu nariz —Respondendo, sua irmã quer um lugar mais quente e em outro continente, talvez Jason a acompanhe.

—Se você acha isso certo— soltei a frase sem pensar.

—Kate tem dezoito anos, não precisa da minha opinião.

—Sinto muito por irritá-lo— argumentei jogando a mochila no chão. Retirei os sapatos, coloquei minhas pernas em cima do sofá como intimando Henry a sentar em qualquer lugar menos ao meu lado.

Ele não se sentiu compelido, sentando no mesmo sofá que eu e colocando minhas pernas sobre seu colo. Aos poucos a tensão entre nós dissipou, logo estávamos conversando, rindo de piadas que ninguém considerado gênio entenderia.

O.K! Essa discussão sobre gênio e quociente de inteligência era ridículo.

Kate e Jason apareceram gritando nossos nomes. Eu rolei meus olhos, aumentando o volume da TV sem realmente prestar atenção no programa. Henry apertou meus pés, parecia irritado com minha iniciativa de chamar a atenção dos dois.

—Encontramos vocês— Kate disse, sentando quase em cima das minhas pernas —Por que não atendem o celular?

Kate: a controladora. 

Mesmo com a ideia mirabolante dos nossos pais de nos colocarem no mesmo ano na escola, minha irmã agia como manda o figurino, tentava me proteger, saber tudo o que eu fazia ou deixava de propósito, criando a imagem de irmã perfeita.

Acho que preciso excluir a palavra perfeição do meu vocabulário, não era exatamente esse adjetivo, embora nossos tios morressem de inveja já que suas filhas faltavam se matar. 

Os cabelos loiros de Kate  pareciam irradiar luz, embora fosse tudo resultado de um dia no cabeleireiro, usava uma maquiagem leve e sorria o tempo todo.

Muito diferente de mim.

—Eu não tenho motivo para me casar com o celular— respondi e ela torceu o nariz.

—Olá! Qual parte do ser popular é importante, você não entende?

—A parte do meio, fim e início— ela mostrou língua, colocando uma mecha do cabelo para trás e a outra mão pousada no joelho de Henry.

—Vamos esquecer isso no momento—Kate sorriu —Bem, Jason e eu queremos saber se nosso cinema está de pé ou vamos adiar como semana passada.

—Onde Jason está? — Perguntei confusa. Ele não estava atrás dela? Como num passe de mágica ele surgiu com um sanduíche em mãos, acenou rapidamente —Oi comilão— eu ainda não acreditava que ele havia perdido tanto peso.

—Rola o cinema? — Ele perguntou, piscando.

—Por mim, eu estou disponível— Henry disse, passando o braço em volta do ombro de Kate.

—E você, princesa? — Jason pediu. Assenti em derrota.

(...)

Arrumei minha mochila, já que nosso cinema seria na sala da casa dos rapazes. Dona Olívia não se importava de nossas atividades de lazer, com a condição de não quebrar nenhuma de suas coleções e entregasse a cozinha e os outros cômodos que utilizássemos organizados.

Kate tinha saído mais cedo, pois passaria na casa de uma colega. Chamei um táxi e em questão de minutos estava na casa. Jason abriu a porta quando eu ia tocar a campainha.

—Oi, cheguei atrasada? — Perguntei, vendo-o bem arrumado para ficar em casa.

—Surgiu um imprevisto— disse segurando meus ombros fazendo-nos girar —Vocês terão que se divertir sem mim— beijou meu rosto e saiu apressado.

Ótimo! Ficaria como vela, atrapalhando Henry de aproveitar-se de Kate, embora pudesse ocorrer o contrário.

Meu corpo sacudiu diante do pensamento.

Respirei fundo, entrando.

—Henry, Kate— chamei-os, subindo as escadas.

 Que eu não visse nada de constrangedor! Implorei, abrindo a porta devagar de seu quarto mergulhado no escuro. Ele estava dormindo e sozinho. Aliviada, deixei minha mochila na cadeira saindo do quarto com cuidado para não o acordar.

—Alô— Kate atendeu no segundo toque e pelo som, jurava que ela estava em uma festa com Jason.

—Por que marcar um cinema se vão a uma festa?

—Nick, não foi intencional, decisão de última hora— ela gritava sob a música —Você e Henry podem assistir ao filme, conversar sobre alguma coisa interessante para vocês.

—OK, divirta-se na festa— ironizei.

—Pode deixar— ela riu, desligando.

Voltei para o quarto, aproximando da cama, no entanto, Henry dormia profundamente, deitei ao seu lado olhando para o teto. Conhecendo-o bem, ele poderia acordar somente no dia seguinte. Fechei meus olhos, aproveitando a tranquilidade do cômodo, talvez eu conseguisse dormir também. 

De fato, entreguei-me ao sono, e senti braços me envolverem carinhosamente.

Se isso fosse um filme, eu seria a personagem criando uma situação comprometedora. 

Antecedentes das confusões da paixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora