Capítulo IV

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Às vezes me odeio por não compreender a importância de um diálogo! 

Sinto-me uma fraca por não expor meus sentimentos, mesmo que isso me magoe. Depois da saída de Henry não voltamos a conversar, nem pude o encarar. Seria incapaz de demonstrar indiferença sobre as emoções que vivi quando seus lábios se colaram aos meus.

 Eu estava sedenta por ele.

 Irrevogavelmente apaixonada e sedenta por uma esmola de seu carinho.

Assim que a porta do quarto se abriu, encolhi debaixo das cobertas pensando ser minha irmã. Não queria ouvir nada sobre a festa, odiaria ter que narrar o cinema em casa do qual não participaram.

 Eu desejava ficar perdida em meus pensamentos.

—Está acordada?

Inevitavelmente, tremi sob sua voz. Por que ele estava ali?

—Sim— respondi em tom baixo.

Ouvi-o se aproximar da cama, sua sombra projetada. Foram alguns minutos antes que Henry recomeçasse. Meu coração batia de modo descompassado, uma angústia sobressaindo a todas as emoções que sua presença despertava.

—Sobre o beijo.

Apressei-me a responder. Não queria ouvir um pedido de desculpas, não queria que ele afirmasse que fora apenas um erro.

—Tudo bem... não vou me apaixonar por você por conta desse incidente.

Tentei brincar, embora minha voz hesitasse.

Ele pareceu querer retrucar, mas a única coisa que ouvi foi um suspiro e uma despedida curta. Minha boca estava seca quando a porta foi fechada, deixando-me novamente sozinha com minhas indagações.

Não é possível me apaixonar.... Eu já estou há muito tempo te amando em segredo.

Fechei meus olhos, lutando contra o sentimento de tristeza. Não queria agir como toda garota apaixonada que é vencida por suas frustrações. Naquele momento eu estava decidida a continuar sem olhar para meus erros... E se a oportunidade surgisse.... Tudo resumia a possibilidades.

(***)

Pela manhã agimos normalmente, Jason monopolizava todas as atenções para o último jogo de basquete, ninguém poderia faltar. É claro que, após dez minutos no máximo, Kate resolveu interromper o relato sem medir as consequências. O café da manhã novamente terminou em uma discussão sem vencedores com um virado de cara para o outro.

—Quanto tempo acha que o silêncio entre eles continuará? — Henry perguntou, após despedirmos de seus pais. Íamos ao clube de tênis uma vez no mês para um jogo desigual, já  minha irmã vive reclamando da dificuldade em não quebrar uma unha, enquanto Jason persiste em jogar com força excessiva.

Coloquei minhas mãos no bolso do casaco, tentando formular uma boa resposta,  qualquer resposta seria estúpida conhecendo o estilo moleque de Jason.

—Vinte minutos, tempo suficiente para que ela se troque, então, ele vai comprar aquele suco que Kate adora e logo estarão rindo de uma piada que não compreenderemos— sorri —Não é difícil notar que os dois se conhecem perfeitamente para amenizar suas discussões.

—Bela análise, Carlie— Henry disse, batendo na aba do meu boné. —Uma pena que não use seus conhecimentos para ir à universidade comigo.

Seus passos se tornaram mais rápidos, deixando-me para trás. Eu adoraria ter gritado e dito o quanto ele estava forçando a barra com o insistente desejo de me ver na universidade. Será tão difícil acreditar que ao contrário de vários estudantes eu só quero encontrar um motivo diferente para ser uma adulta feliz, sem desmerecer o curso superior, mas expandir minha lista de opções? 

Antecedentes das confusões da paixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora