Everything Has An End - portuguesa

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Custava-lhe lembrar aqueles tempos. Aquele ano que estava a ser tudo menos reconfortante. Primeiro a morte do pai e passado um tempo a morte do seu único amigo português, aquele rapaz que para ela era bem mais que um simples amigo, era a sua primeira paixão. Recordava com muito carinho o tempo em que passava as férias em Portugal. Vinha com a sua família, para a sua mansão nos arredores da capital. Quando chegava tinha sempre Pedro à sua espera, aquele rapaz alto e esguio, de olhos pretos e cabelo rebelde. Pedro era desde sempre o rapaz mais especial da sua vida. Houve aquele dia em que eles foram ao parque perto da casa de Joanne, pegaram num pau e gravaram os nomes dos dois com o mesmo apelido, aquela brincadeira que já tantas vezes tinham visto nos filmes e que lhes dava tanto gosto fazer. Nutriam um pelo outro uma paixão infantil, mas ao mesmo tempo tão real como outra qualquer. Sonhavam um dia ficar juntos para sempre e a verdade é que ficaram, mas para Joanne, o sempre de Pedro não era suficiente.

Os anos passaram, Joanne tinha agora 14 anos e era uma adolescente absolutamente encantadora e de uma beleza estonteante. Adorava ajudar os outros e era uma aluna muito aplicada. Apesar de tudo o que já tinha passado nunca se mostrava abatida na presença de ninguém a não ser do seu atual melhor amigo. Miguel era um rapaz que ela conhecera quando se mudou para Lisboa, andava na mesma escola e nunca conseguira esconder que gostava de Joanne. Com ele ela conseguia falar de tudo e obter uma opinião sincera. Jo, como todos amigos lhe chamavam, adorava-o. Por vezes, quando estava com ele sentia que era a única pessoa que a conseguia fazer esquecer de tudo o que já se tinha passado, mas a verdade é que nem a melhor das conversas lhe limpava a memória. Dava por si muitas vezes a lembrar-se de quando o pai a pegava ao colo e fazia com que ela voasse por cima de tudo, lembrava-se bem que esta era a única maneira conhecida para acalmar uma birra, quando era mais pequena. O rosto do pai era agora já meio apagado, mas o seu cheiro e a maneira como ele falava calmamente ficariam para sempre na memória de Joanne.

Em cada aniversário da morte de Pedro, Joanne voltava ao parque, ao lugar onde se encontrava a árvore na qual estavam gravados os seus nomes. Ficava sentada ali, no meio de ninguém e falava, gritava, chorava, recordava, recordava todos os momentos, todas as conversas, todas as promessas, promessas de crianças, promessas que nunca se viriam a concretizar. Ela não queria saber das injustiças, por mais que a vida fosse injusta para ela, a única coisa que era importante era as saudades que ela sentia destas pessoas, por vezes também dava por ela a sentir saudades da sua casa em Inglaterra, de como lá era tudo bonito e enublado. Já estava em Portugal havia quatro anos e já tinha construído uma amizade forte com Miguel, mas este país não era onde ela se sentia completa, se bem que agora qualquer que fosse o lugar onde se encontrasse dava sempre falta de partes que partiram com as pessoas. Oh, como sentia falta dessas pessoas!

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