Everything Has An End 5

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O autocarro esperava na paragem ao pé da escola. Aquele era o autocarro que os ia levar para a floresta onde se ia realizar a corrida. Os pares deviam juntar-se antes de entrarem e fazer a viagem um ao pé do outro, numa tentativa de se conhecerem melhor. Jo não se importou muito com isso, afinal, o que mais queria naquele momento era conhecer melhor o seu companheiro de aventuras.

- PREPAREM-SE PARA ENTRAR – gritou um dos professores acompanhantes, o mesmo que de seguida fez a chamada, já dentro do autocarro - A floresta fica um pouco longe daqui, por isso vão ter muito tempo para falar com o vosso colega. Esperemos que tenham trazido algo para comer. Quando lá chegarmos vamos entregar uma mochila a cada um, lá dentro irão encontrar uma lanterna, um mapa, uma bússola, comida enlatada, garrafas de água, um estojo de primeiros socorros. Todos trouxeram cobertores e os sacos-cama vão estar dentro da tenda em que os pares vão dormir. No caso de serem um par em que haja um rapaz e uma rapariga a tenda está dividida com dois “quartos”. Queremos desejar-vos uma experiência divertida e que vença o melhor.

Seguiu-se um silêncio aterrador. Na cabeça de Joanne passavam vários pensamentos em catadupa. Ela era uma rapariga destemida, mas nunca tinha passado tanto tempo longe da mãe e eram muito ligadas. Cinco dias pareciam agora uma eternidade. A sua linha de pensamento foi cortada por Flynn:

- Bem, parece que já sabemos tudo um sobre o outro….

- Tudo também não, sei que és inglês, e que estás a viver com os teus tios e que depois queres voltar para casa e estudar em Cambridge.

- Pronto, o que é que queres saber mais? Ou melhor, pelo que vejo agora eu é que não sei nada de ti.

- Pergunta!

- Aquele rapaz com quem costumas andar é teu namorado?

- Não! – respondeu Joanne escandalizada. Ainda diziam que ele era tímido.

- Desculpa a indiscrição. Só que tinha curiosidade, andam sempre tão juntos e pelo que já vi, é claro no olhar dele que está caidinho por ti.

- Mas eu não gosto dele, não dessa maneira. Podemos deixar esta conversa por favor?…

- Ok, desculpa! Praticas algum desporto?

- Não, odeio desportos, não tenho jeito nenhum para nada. Em Inglaterra tinha um cavalo, ainda tive aulas de hipismo, mas a professora disse logo de início ao meu pai que era melhor desistir, porque eu não tinha futuro. O meu pai teve que despedir a professora. Passado pouco tempo vendeu o cavalo e comprou-me uma cabra. Lembro-me perfeitamente dele me chamar ao jardim porque tinha uma surpresa para mim. Quando eu vi nem queria acreditar. A minha mãe não achou graça nenhuma. Mas lá fiquei com a cabrita, foi criada como um cão, mas depois cresceu, ficou velha e agressiva e tivemos que a vender.

Um sorriso apareceu no rosto de Joanne, já há muito tempo que não se lembrava desta história. Flynn ria-se, a sua expressão era ternurenta. Jo sentiu uma vontade enorme de o abraçar, mas conseguiu conter-se.

- Então e tu, tiveste algum animal de estimação?

- Sim, tive um cão. Era muito energético, por isso acompanhava-me nas minhas corridas diárias. Sempre foi uma espécie de irmão, era quase a maior companhia que eu tinha. – de repente Flynn parou de falar, como se não quisesse tocar naquele assunto.

Joanne não se sentia pronta para perguntar o porquê de dizerem que ele era solitário, porque é que em Inglaterra a maior companhia que ele tinha era um cão e porque é que ele se tinha calado tão bruscamente. Naquele momento o olhar de Flynn era misterioso, triste, revoltado, naquele momento o olhar de Flynn mexia com Joanne como se ela fosse um pião num jogo, ocupavam por completo o seu pensamento, o olhar verde sujo, penetrante.

- Bem, não sei quanto a ti, mas a mim apetece-me dormir um bocadinho. Acorda-me quando chegarmos. – avisou Flynn

- Está bem

Mas ela não tinha sono. Lá fora o sol brilhava intensamente. Estavam a passar por uma aldeia bastante engraçada, coberta com casas decoradas com estátuas com um rigor impressionante. As varandas faziam-na lembrar-se da história de Romeu e Julieta. Achava a história um bocado parva, demasiado trágica, o que lhe trazia um ar muito irreal, não sentia de forma nenhuma a necessidade de viver um amor como aquele, tão proibido, tão romântico. Joanne adorava ler romances, as típicas histórias em que uma rapariga conhece um rapaz e depois tudo acontece. Na vida real as coisas não pareciam funcionar daquela maneira, não para ela, não por agora.

Como tinha prometido Joanne acordou Flynn quando estavam quase a chegar.

- Pude constatar que não ressonas, o que é bom como vamos dormir na mesma tenda.

- Não te preocupes, mesmo que ressonasse tu ias estar mais preocupada com os misteriosos barulhos da floresta. As raparigas são umas medricas…

- Ei!! Eu não sou medricas.

- Então livra-te de me acordares a meio da noite porque estás assustada. – disse Flynn num tom de gozo

- Não vai ser um problema, juro.

- É bom que cumpras.

Joanne olhou para Flynn e reparou que ele a mirava como da primeira vez que falaram. Os olhos percorriam as suas feições e fizeram-na corar.

- Estás vermelhinha!

Não quis responder e foi salva pela voz de um professor a avisar que tinham finalmente chegado ao seu destino.

Everything Has An End - portuguesaOnde histórias criam vida. Descubra agora