Mal chegou à escola, Joanne dirigiu-se para o placar onde já estava colocada a lista com os pares para a prova. Com o dedo traçou uma linha que ligava o seu nome ao de um rapaz chamado Flynn. Não lhe pareceu conhecer ninguém com esse nome naquela escola, mas reparou que tinha um apelido português, constatou então que tal como ela Flynn deveria ter dupla nacionalidade.
-Com quem ficaste? Eu fiquei com um rapaz chamado Rafael. Acho que é da turma da Maria, já falei com ele uma vez na biblioteca. Ele é bom em desporto, por isso pode dar-nos uma vantagem.
-Eu fiquei com um tal de Flynn. Nunca ouvi falar dele. E quanto a isso da vantagem, Miguel, não penso que seja verdade porque para compensar a aptidão do teu companheiro para os desportos, tu és um zero à esquerda nessa área.
-Oh! Muito obrigada, grande amiga que tu me saíste. Fica sabendo que eu tenho melhorado muito as minhas capacidades. Mas, no que toca ao teu companheiro eu sei quem ele é. É um ano mais velho e é muito solitário, dizem que é um crânio e tal como tu veio de Inglaterra, mas está cá há pouco tempo.
-Interessante, ainda não sabia das novidades.
No seu interior, Joanne ficou a pensar em como iriam ser aqueles cinco dias. Sabia agora que Flynn era um rapaz solitário e isso não era de facto uma coisa maravilhosa, mas sentia uma curiosidade aguda em saber mais coisas sobre o seu par, que tinha já uma coisa em comum com ela e essa coisa era muito importante: o lar.
*
Naquele fim de tarde, Joanne sentiu uma vontade de fazer mais uma viagem ao passado e decidiu ir ao parque, agora abandonado, onde costumava passar tempo com Pedro.
Sentou-se num banco de jardim muito velho, onde costumava estar com o seu parceiro… Se ao menos isso o trouxesse de volta. Olhou mais uma vez para a árvore onde os seus nomes se encontravam gravados e todas as memórias ficavam mais uma vez claras no seu coração. Sentiu uma lágrima a escorrer no seu rosto, uma lágrima quente, salgada, uma lágrima que arrastava a tristeza de uma perda, ou de várias. Joanne sentia um vazio enorme no coração, que não era preenchido. Tocou na árvore e falou com Pedro, falou-lhe suavemente, contou-lhe como tinha sido o seu dia e perguntava-lhe como é que ele estava, onde estava, se estava presente. Dizia-lhe o quanto sentia a sua falta e, entre soluços, descrevia-lhe como estava o mundo desde que ele partira, mais cinzento, mais frio, menos acolhedor.
Depois disto, Joanne voltou para casa. Após realizar os seus afazeres com a mãe, deitou-se, muito mais cedo do que o habitual. Embalada pela música mais melancólica que conseguiu encontrar, ela começou a pensar naqueles que tinham partido, no seu pai, em Pedro, em parte nela. Em como era uma criança feliz, a quem nunca tinha faltado nada, a não ser o pedaço que se perdera e que causara o tal vazio no seu coração. De seguida lembrou-se da caça ao tesouro, do seu par. Havia de descobrir quem era esse rapaz misterioso no dia seguinte, mas agora queria dormir, porque se sentia cansada de chorar e de tentar construir um pretexto para parar. Quando era assim pensava na sua mãe, na mulher forte que sustentava a família, e em Miguel. Virou-se para o outro lado e caiu num sono profundo, só voltando a acordar no dia seguinte.
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Everything Has An End - portuguesa
Teen FictionEsta é a história de Joanne, uma rapariga que nunca teve a vida simplificada. Jo (como os amigos a tratam) nasceu em Inglaterra, mas mudou-se para Portugal, onde fez novos amigos, incluindo Flynn, o rapaz que vai mudar por completo a sua vida e conf...