A publicação da história não tem tido muito sucesso, mas eu vou continuar a publicar na esperança que a situação melhore. Críticas ou comentários são aceites. Obrigada.
- O autocarro chegou!- gritava um monitor – Vamos lá. Já está mais que na hora.
Estavam todos um bocado cansados e moviam-se lentamente para o autocarro, o que parecia estar a irritar os mais velhos. Como da outra vez, os parceiros sentaram-se uns ao lado dos outros. Flynn estava com umas olheiras marcadas, que tornavam o seu rosto mais pesado que o habitual. Manteve-se toda a viagem calado e quando Joanne lhe pegou na mão ele não a apertou como devia ser. Entraram os dois num silêncio esquisito e quase incomodo, pelo menos para Joanne. Ele não parecia o mesmo rapaz que ela tinha conhecido durante aqueles dias. Estava frio, distante, quase como as pessoas o descreviam.
Chegaram a Lisboa, o tempo estava chuvoso. Quando Joanne entrou em casa, a mãe veio logo a correr ao seu encontro. Abraçaram-se. Jo contou-lhe sobre tudo o que se tinha passado, até sobre Flynn. A mãe não pareceu muito incomodada e não repetiu o discurso sobre ela ser demasiado nova para namorar.
Tinham-se passado várias semanas. Já era inverno. Jo e Flynn tinham-se afastado muito naqueles últimos tempos. Joanne não entendia o porque da separação e parecia que Flynn a estava a evitar desde o dia em que voltaram para Lisboa. Tinha saudades dele. Tinha guardado tudo numa pequena caixa, as fotos, o postal, o livro. A única coisa que não estava na caixa era o colar que ela continuava a usar.
Numa noite, enquanto vasculhava mais uma vez a caixinha, Jo tomou a decisão de confrontar Flynn no dia seguinte.
Como tinha pensado, procurou o rapaz por toda a escola e não o encontrou. Miguel veio na sua direção e entregou-lhe um papel. Joanne abriu-o:
“Desculpa se te tenho ignorado nestes últimos dias, mas se o fiz é porque tinha uma razão. Recebi uma chamada e tive que voltar para Inglaterra. A minha mãe morreu. Eu sei que tenho andado estranho, mas como já te disse eu sei porquê, mas tu não podes saber, não por agora. Falamos quando eu voltar, prometo!
Com muito amor : Flynn “
- Meu deus! Coitado do Flynn.
- Pois. Ele disse-me o que se tinha passado ontem, quando foi a minha casa entregar a carta. Vocês namoram? – perguntou Miguel
- Sim. Desculpa não te ter contado antes.
- Não faz mal. Eu percebi. Fico contente por teres encontrado finalmente alguém para ultrapassar o Pedro de uma vez.
- Eu não o ultrapassei. Eu simplesmente segui em frente, mas não quer dizer que o tenha deixado para trás. Eu só entendi aquilo que me disseste, e o Flynn, o Flynn é o rapaz que eu amo. É como se eu tivesse voltado a Inglaterra, ele faz-me lembrar de casa.
- Está bem. Mas eu pensei que tu já te considerasses portuguesa.
- Eu sempre fui portuguesa e inglesa. Mas eu nasci em Inglaterra. Foi em Inglaterra que eu vivi com o meu pai. Inglaterra é a minha terra natal e eu tenho uma grande ligação com esse país.
- Ok, eu entendo.
*
Jo saiu para dar uma volta depois das aulas. Dirigiu-se ao cemitério, à campa do seu pai. Tinham decido enterra-lo no seu país de origem e depois acharam por bem ficar a viver em Portugal. Bem, mas lá estava ela, em frente ás flores e à pedra onde se encontrava gravado o nome do seu pai, a sua data de nascimento e morte. Já tinha passado tanto tempo. A dor já tinha passado, mas ela chorava. As lágrimas percorriam a sua face e caiam pesadas. O vazio, o espaço onde o seu pai costumava estar está vazio. A casa de Inglaterra está vazia, a grande casa onde Jo cresceu encontra-se abandonada. Nunca mais tinham lá voltado. Ela queria lá voltar. Queria sentir a humidade condensada. Queria percorrer as ruas de Londres e andar mais uma vez na roda gigante. Queria sentir a magia de Inglaterra. Estava a fazer-se tarde. Joanne achou por bem voltar a casa.
O seu quarto era enorme. Na parede do fundo havia uma porta de vidro que ia dar a um terraço. Esse espaço ficava virado para a parte de trás de casa. A vista era linda. A paisagem incidia sobre campos e lá bem ao fundo conseguia-se ver o mar. Era um espaço privado, ao qual Joanne recorria algumas vezes. Estava uma noite calma e ainda era demasiado cedo para ir para cama, mesmo para um dia de semana, lá fora estava frio, mas a beleza era tanta que Jo não resistiu em sair um bocado para o terraço. O céu estava estrelado. Perguntava-se como estaria Flynn naquele momento, qual seria a razão que ele mencionava na carta. Percorria a mente á procura de uma resposta, à procura de todas as razões que a faziam sentir daquela maneira quando o assunto era aquele tal rapaz. Sentiu uma vontade enorme de o ter ali, de falar sobre o segredo que ele guardava, de lhe dar a mão e de poder provar mais uma vez o seu beijo.
Voltou para o quarto e deitou-se, embrulhando-se no cobertor. Estava frio, muito frio, mas não tanto como em Inglaterra.
*
O funeral da sua mãe tinha sido durante aquela tarde. Flynn estava cansado e já estava na hora de se deitar. Por mais que tentasse apagar aquele dia da sua memória não conseguia, nunca tinha tido uma grande relação com a sua mãe, mas mesmo assim ele não podia lutar contra o facto de, boa ou não, aquela era a única pessoa a quem ele podia chamar de mãe e ela nunca mais iria voltar. Joanne, ele precisava de lhe contar, mas e se ela não entendesse? Se ela fugisse como todos os outros. Por mais que tentasse, ele não conseguia adormecer, via as horas passar e ele continuava ali, preso naquele dia, preso naquela cama, a tentar adormecer, descansar, apagar memórias. Uma lágrima começou a rolar pelo seu rosto. Porque é que ele tinha feito aquilo? Sentia a culpa a apoderar-se do seu corpo, ele só queria esquecer. Não, ele nunca ia conseguir esquecer-se e por mais que lhe custasse ele tinha que contar a Joanne. Mas e se ela não entendesse? O seu voo partia no dia seguinte mas ele, ele pura e simplesmente não conseguia adormecer e via as horas a passar e continuava ali, preso, desesperadamente preso.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Everything Has An End - portuguesa
Teen FictionEsta é a história de Joanne, uma rapariga que nunca teve a vida simplificada. Jo (como os amigos a tratam) nasceu em Inglaterra, mas mudou-se para Portugal, onde fez novos amigos, incluindo Flynn, o rapaz que vai mudar por completo a sua vida e conf...