Prólogo: Alessandro

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Madalena dormia profundamente. Suas costas subiam e desciam em um ritmo solene, preguiçoso. Já estava acordado há pelo menos uma hora. Não resisti a ela dormindo ao meu lado nem me atrevi a acordá-la. Eu me sentia completo. Sentia que estava fazendo o certo. Ela era o certo.

Sorri novamente quando ela murmurou alguma coisa sobre mim. Parecia um xingamento. Será que até em sonhos ela não me deixava em paz?

De repente, ela se moveu e eu soube que estava acordada. Agora era o grande momento. Tudo que tínhamos feito noite passada, em grande parte, era minha culpa. Eu a provoquei. Pensei que ela poderia me bater, chamar a polícia, ter um treco... Ou nunca mais querer me ver em sua vida; o que eu mais temia. No entanto, eu preferi arriscar. Uma noite ao seu lado era melhor que nenhuma. E ela havia respondido a cada um dos meus toques. Não estava nem um pouco arrependido. Mas me doeria saber que ela estava.

-Bom dia. - disse, sem jeito.

-Bom dia. - ela respondeu, afastando-se de mim.

Droga!!!

-Sobre ontem à noite... - decidi explicar. Tudo foi tão rápido, tão irracional...

Tudo estava perdido.

-Você acha mesmo que é necessário falar sobre ontem? - ela me cortou.

O quê?

-Tem razão, não.

Por fim, foi bem mais fácil do que eu esperava. Ela parecia relaxada. Contente.

Conversamos, brincamos, sorrimos. A verdade era que nunca na minha vida tudo parecia tão bom. Simples.

Não esperava que ela dissesse que me amava - e nem queria isso-, mas havia uma esperança para nós dois juntos. Lena seria uma boa companheira e com o tempo podia vir a amá-la. Seria bom o futuro ao seu lado. Finalmente, minha vida tomaria um caminho simples.

Já tínhamos passado muito tempo na cama. Apesar de eu não admitir, minha barriga doía pela fome. Fora uma noite agitada e eu precisava recompor minha forças.

Mas antes...

O quarto estava muito escuro e a verdade era que eu queria vê-la à luz do dia. Senti na noite passada, quando toquei seu corpo e beijei seus lábios, como se ela fosse uma pessoa diferente... A carícia... Tudo. Naquela noite, eu a vi com a minha pele, e ela era perfeita. Sabia que dessa vez a enxergaria de uma maneira diferente.

Abri as pesadas cortinas cor creme do quarto. O sol lá fora estava forte e já alto. Por volta das dez da manhã. Ainda haveria café-da-manhã? O quarto era abafado e pequeno. Suas paredes eram verde-escuras e os únicos móveis ali eram a cama, uma cadeira de madeira velha no canto e um pequeno criado-mudo do lado esquerdo da cama.

Ao meu lado, ela passou enrolada no lençol. Era jogo baixo. Sentei-me na cama para observá-la melhor. Ela caminhou devagar, provocando. Um sorriso pulou da minha boca antes que eu pudesse contê-lo.

De frente para porta do banheiro, e ainda de costas para mim, Lena soltou o lençol lentamente ao redor do busto, deixando-o deslizar sobre seu corpo.

Ah, se ela pensa mesmo que não vou tomar esse banho com ela, está mui...

Cortei meu pensamento de súbito. Admirando seu corpo, eu vi. Estava ali. Bem ali! Do lado direito da costa, na direção da última costela... Um sinal singelo, mas não idolatrável. Eu o conhecia bem. Passara anos observando-o.

Não pode ser. Tinha que ser outro!

Lena virou-se para mim, mas eu não consegui nem mirá-la nos olhos. Nunca fui de demonstrar espanto - nunca fui de me espantar -, mas confesso que aquele sinal me abalou. Tentei disfarçar, mas levando em conta o modo que ela adentrou no banheiro, não consegui.

O Assassino (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora