Capítulo 39: Monstro

1.2K 93 6
                                    



    Andar por aqueles corredores pálidos foi uma das coisas mais difíceis que Rafaela teve que fazer na vida. Sua pulsação estava forte, quase como o bater das asas de um beija-flor; esforçava-se muito para não sair correndo e se perder na esperança de encontrar Amanda logo na esquina, sorrindo e pronta para revelar todos os segredos. Era um sonho? Ilusão negra e absurda? Ela não dava a mínima. Queria poder gritar e sorrir descontroladamente.

   A sala de espera já estava cheia de parentes e amigos íntimos – que não eram muitos – de Amanda quando ela finalmente chegou. Hebert e Penelope estavam no canto esquerdo, ao lado de um consultório com duas portas verde-claras, sussurrando algo com o delegado Juliano. Suas expressões pareciam preocupadas, Rafa percebeu ao observar a ruga tão indesejada na testa de Penelope.

   Ela virou-se para olhar todos, pareciam concentrados em suas orações pessoais. Cláudia, logo atrás da amiga, tocou seu ombro tentando passar algum consolo. Rafaela precisava ser forte naquele momento – assim como em todos os outros que se passaram e nos que ela sabia que ainda viriam. O problema era que ela sentia incômodo nas extremidades do seu corpo, um formigamento contínuo que não podia significar boa coisa. Era quase como se pudesse sentir o perigo se aproximar de si.

   Não ficaria parada esperando-o, deu o primeiro passo em direção ao trio mais interessado. Uma mão logo invadiu seu caminho, tomando seu braço e fazendo-a mudar de direção quase instantaneamente.

   – Rafaela, não – Alex alertou ao seu ouvido. – Deixe-os.

   Rafa percebeu os olhos vermelhos da prima enquanto escutava atentamente as palavras do delegado. Ela já havia tido experiências suficientes com Penelope para entender que a situação era séria, ela nunca chorava por supérfluos.

   – O que aconteceu? Como ela está?

   – Mal – Alessandro suspirou, guiando-a para o canto oposto da sala de espera.

   Ele parecia um tanto decepcionado e cansado. Levou o polegar e o indicador até as têmporas fechadas a fim de massageá-las.

   – Ela foi encontrada no acostamento da BR interestadual, completamente nua. Estava praticamente sendo comida viva por formigas-de-fogo.

   Rafaela segurou o próprio folego ao ouvi-lo.

   – Os cabelos foram raspados – continuou ele –; os dedos da mão direita, quebrados; está semi-desnutrida e sofrendo de hipotermia. Também há possibilidade de violência sexual, mas nada confirmado ainda.

   Rafaela diminuía um pouco mais a cada palavra dolorosa que ouvia dos lábios de Alex. Voltou-se para o corredor que cria levar ao leito de Amanda. Em algum lugar, cercada pela palidez dos jalecos de médicos e enfermeiros, ela definhava, provavelmente implorando para morte levá-la com rapidez. Era o que Rafa faria em seu lugar.

   – Há chances de ela sobreviver?

   – Todos os procedimentos necessários estão sendo feitos, principalmente para conter a hipotermia. Há poucos minutos, o doutor disse que soros aquecidos já foram infundidos nela... No entanto... Ela está sem energia alguma. Ela precisa ter vontade de sobreviver, Rafaela... Talvez esse seja o ponto fundamental para a sobrevivência dela.

   Rafaela assentiu rapidamente, contendo as próprias lágrimas. Virou-se novamente para Alex, e sussurrou:

   – Ela era a minha última esperança... Ela... E-ela precisava sobreviver... Precisava. A minha irmã... A sua irmã... – não sabia como terminar a própria frase.

O Assassino (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora