Capítulo 10: Levada

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   Por um minuto, o apartamento ficou quieto.

   –Eduardo, me desculpa, eu não quis...

   –Não – interrompeu –, tudo bem. Eu... Eu acho que é melhor eu voltar pra casa, a Penelope já ligou umas mil vezes. Inventei uma desculpa, mas acho que já passei tempo demais longe de casa.

   Casa.

   Rafaela entristeceu-se por ele considerar a prima como a sua casa. Mas ela merecia aquelas palavras, precisava ser ferida tanto quanto ele foi; e analisando como seus olhos estavam tristes, ela o tinha destruído.

   –Ok. Mas só deixa eu explicar. Você falou da minha bunda, eu me confundi, é que o Alessandro já...

   –Não. – fechou os olhos com força, cerrando os punhos sem perceber – Não tente explicar, só vai piorar as coisas. Eu vou pra casa. A sua chave do apartamento tá dentro da minha primeira gaveta do closet, onde sempre esteve, quando sair, tranca tudo, ok?

   –Ok.

   –Eu preciso pensar um pouco no que vou fazer.

   –O que pensa em fazer?

   –Não sei.

   Não sabe?

   Eduardo saiu do apartamento sem dizer mais nenhuma palavra.

   Sozinha, Rafaela só conseguiu chorar. Mais uma vez, ela tinha estragado tudo. Temia que dessa vez o tinha perdido para sempre.

°°°

   –Passou o ano-novo sozinho? – indagou Amanda, aproximando-se de Arthur na piscina coberta.

   –E você? – perguntou, atrevido.

   –Mais ou menos... – ela analisou por um momento, andando ao redor da piscina – sim, digamos que sim – mergulhou.

   O corpo de Amanda era escultural, resposta aos anos de academia. De cintura fina e barriga sequinha, ela exibia um piercing no umbigo que sempre enlouquecera Arthur, anos antes de ele conhecer a Cristal.

   Ela submergiu próximo a borda onde ele estava sentado.

   –Somos iguais, Arthur – disparou. – Mesmo que você não admita. Não digo que o que você sentiu pela empregadinha tenha sido mentira, mas passou. Eu sei disso, ela sabe, você sabe... – esperou alguma resposta. Arthur apenas mirava o vazio, absorvendo cada palavra de Amanda. – E sabe por quê? Porque história de amor entre patrão e empregada só dá certo em novela, na vida real é impossível. E você não pertence ao mundo dela, e mesmo que você tente, ela nunca pertencerá ao nosso.

   Arthur virou-se para ela. Estava certa. Cristal nunca se encaixaria em sua vida, mesmo porque, temia ele, ela não queria. Não o amava como antes. Mas ele sim! E se ela não se encaixava em sua vida – que os céus o ajudassem! –, ele tentaria se encaixar na dela.

   Ainda pensando nisso, ele não percebeu Amanda aproximando-se perigosamente.

   –Estou atrapalhando alguma coisa? – Cristal apareceu. Na hora certa! Ou esta autora diria "na hora errada"? Arthur praguejou baixinho, percebendo a situação que Cristal pensou ter visto.

   –Sempre atrapalha – sussurrou Amanda.

   –Não – ele quase gritou – Onde está Daniela?

   –Dormindo lá em cima. Te procurei pra você subir e dar um beijo nela.

   –Claro. Vou até lá neste instante. – levantou-se rapidamente e correu, dirigindo-se para dentro de casa.

O Assassino (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora