Último Capítulo: parte final

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      Já passava das quatro da tarde quando Cláudia desceu com suas malas. Foi o momento ideal, segundo ela. Não havia ninguém em casa – a maioria dos empregados estava de folga e o resto da família tinha saído para resolver algum problema: Rafaela, por fim, saíra para resolver sua vida; dona Michele estava no hospital com a sobrinha; Arthur fora buscar Cristal na clínica. A babá com a pequena Dani devia estar passeando em alguma pracinha não muito longe dali.

      Assim era melhor. Sem despedidas. Nada de lágrimas. Não havia necessidade para tanto drama por uma viagem, ela só passaria alguns dias com o tio. Voltaria com certeza.

      Ou pelo menos era o que ela esperava.

      Olhou-se no espelho perto da porta. Sua franja estava bem mais longa, seus olhos pareciam diferentes também. Lembrou-se daquela Maria que deixara no fundo de um quarto pequeno em Campos Verdes, aquele bichinho do mato que mal sabia andar de salto. Parecia ter sido em outra vida. Agora, ela já sabia se portar – em teoria, pelo menos –, havia começado uma faculdade de Ciências Contábeis e até mesmo se apaixonara... Todos os meses naquela cidade lhe proporcionaram toda a aventura que um dia ela desejou. E, por fim, havia chegado o momento de voltar para casa.

      Os ventos sempre úmidos, o cheirinho de terra molhada, a figura dos campos amarelo-esverdeados, os pés de juçara tão altos e de difícil alcance, as pessoas com que crescera, o olhar cansado e carinhoso do tio Maurício. Ela sentia falta de tudo. Mal podia esperar para sentir novamente a água fria do rio banhando sua pele e inundando sua alma de liberdade; pôr a cabeça no travesseiro fino de sua estreita cama e dormir em plena paz.

      A campainha soou. Provavelmente o segurança avisando que o táxi chegara. Ela foi abrir.

      – Oi, Cláudia – disse Alex ao entrar.

      – Alessandro? – Surpreendeu-se. – O que faz aqui?

      – Como você já sabe, eu e Helen chegamos ontem à noite e a minha sobrinha pediu para conversar com a Rafa... – ele percebeu as duas malas grandes e vermelhas aos pés do sofá. – Vai viajar?

      – Sim. O meu tio me ligou mais cedo, ele disse que está um pouco adoentado e eu vou até lá cuidar dele.

      – Ah, sim – anuiu. – Boa viagem – desejou. – Será que poderia chamar a Rafaela e dizer que estou aqui em baixo esperando? – esfregou as mãos para expulsar o frio que invadiu suas extremidades.

      – Tinha esperança que ela tivesse ido até você – resmungou, um tanto alto demais–, mas já faz tempo...

      – Como? – ele quis entender.

      – Ela não está, Alex. Foi ver o Eduardo – concluiu.

      Alessandro notou o olhar complacente de Cláudia.

      – Eu sinto muito – proferiu.

      E ele entendeu.

      – Se ela foi até ele, então... – não pôde concluir.

      – Sim – ela confirmou.

      – Até faz sentido – disse, condescendente. – Ele não está mais casado.

      – Sim, a Penelope viajou ontem pela manhã.

      Alessandro assentiu um pouco sem jeito, tentando expressar um riso.

      – Eles sempre se amaram mesmo – tentou convencer-se. – E, depois de tudo que ela passou, merece ser feliz com o homem que escolheu.

      – Alex – Cláudia tentou levar sua mão até o rosto do amigo. Dizer algo reconfortante, infelizmente para Alessandro isso seria muito pior.

O Assassino (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora