Capítulo 6: Um corpo sobre a mesa

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    –Como? – a voz de Rafaela saiu rouca.

    –Você chama meu nome dormindo, algumas vezes até me pediu desculpas. – ele lhe deu um meio sorriso, esperando pela resposta.

    –Bem, ontem foi tão... Emocionante, no mal sentido, claro. Eu devo ter ficado muito impressionada. Você me salvou – ela tentou sorrir – e eu me sinto tão culpada por ter te envolvido nisso. Deve ser por isso que falei seu nome dormindo.

    –Foi o que eu pensei também. "Desculpa" é palavra que eu mais ouço saindo dessa sua boquinha. Mas, enfim – ele tirou o computador de cima do colo e levantou-se, um pouco desengonçado. Maravilhosamente desengonçado. –, você precisa comer. Eu fiz o café-da-manhã. Não sei cozinhar muita coisa, mas eu me esforcei. É o que conta. – ele pegou alguns pratos sob o balcão da cozinha. –Não tinha muita coisa na geladeira também. Faz tempo que eu não venho aqui.

    –Tudo bem. – ela falou, exibindo o sorriso mais largo que dava em meses. Era como nos velhos tempos.

    Eduardo devolveu o sorriso com uma ruga na testa.

    Idiota, você não é mais a namorada dele, não sorria como se ele fosse a pessoa mais fofa do mundo! Mesmo ele sendo mesmo!

    –Você deve estar com tanta fome. – ele trouxe os pratos para cama – Você dormiu muito.

    Ele tinha preparados ovos mexidos, leite quente e algumas torradas com geleia.

    –Que horas são? – ela questionou, atacando os ovos.

    –Quase onze.

    –ONZE?! – quase cuspiu os ovos na cara dele.

    –Você estava bem cansada.

    –Faz alguns dias que não durmo direito, bem – ela se lembrou da noite com Alessandro –, posso até dormir direito, mas sempre muito pouco.

    –Parece que foi tirado o atraso.

    –O QUÊ?! – engasgou.

    –Falo do sono.

    –Ah, claro.

°°°

    Será que ela voltaria para trabalhar? Já era o segundo dia que ela não voltava para o escritório. Grrr. Por que ele ainda pensava nisso? Melhor seria se ela não voltasse. Menos um problema!

    Talvez ele estivesse certo, tudo que ela fez foi para se vingar dele ou até de Eduardo. Não se surpreenderia vindo da víbora que existia dentro de Rafaela.

    Madalena parecia tão diferente de tudo que ele conhecia. Podia enxergar verdade em seus olhos – quando conseguia enxergar seus olhos.

    E, quando ela se entregou a ele, podia jurar que fazia de corpo e alma. Ela olhara sempre para ele enquanto se amavam, como se buscasse algo nele... Talvez amor. Rá. Rafaela Gomes de Campos não ama ninguém. Talvez, se ele tiver muita sorte – que provavelmente acabou depois do casamento –, Eduardo.

    Porém, a pergunta máster não era o que ela sentiu naquela noite – apesar de ele querer muito que fosse. O importante era saber o que aconteceu. Por que ela fingiu a própria morte. E Marcela. O que havia acontecido de fato naquela tarde.

    –Tio! – Vitória entrou, saltitando pela sala.

    –O que faz aqui? – ele se levantou para receber o abraço da pequena.

    –Bem, eu sabia que o senhor tinha vindo trabalhar para encontrar a Lena, também imaginava que ela não viria e o senhor estaria aqui se remoendo por isso. Esqueci alguma parte? – encostou o polegar o indicador no queixo.

O Assassino (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora