Capítulo 31: Aceite a realidade

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   Rafaela estava deitada na cama de Marcela, assistindo um filme qualquer. Não prestava atenção. Só pensava na irmã e em tudo que deveria ter passado antes do acidente. Ela ainda não entendia o porquê de Marcela ter escondido tanta coisa. Muita coisa teria sido diferente.

   Lembrava-se de como escolhera confiar em Alessandro. Culpava a si mesma por ter feito aquilo.

   Implorava em silêncio por Eduardo. Nunca imaginou que falta dele doeria tanto, até mais de quando ela se viu no meio do nada, com a cabeça cheia de problemas, sem identidade e sem esperança de retorno. Dessa vez tudo parecia mais vazio e escuro. Algo dentro de si gritava que nada mais seria igual. Algo importante fora quebrado.

   Em questão de um dia, ela perdera os dois. Os dois homens de sua vida. Foi tudo tão rápido que, para ela, faltou um certo drama que sempre imaginou. A escolha de um, a despedida de outro. Tudo com uma música imaginária melodramática de fundo. Com as devidas lágrimas. Tudo em um estilo único e Rafaelístico de ser.

   No entanto, ela não escolhera ninguém. Por mais que ela se esforçasse para encontrar uma saída, só chegava a conclusão que a partir daquele momento ela deveria caminhar sozinha. Todos sempre a ajudaram, salvaram-na, compadeceram-se dela. Chega disso. Estava na hora de andar com as próprias pernas. Provaria à Marcela que não precisava ser protegida.

   No final, todas essas perdas significativas que Rafaela passou, poderiam servir para o nascimento de uma nova pessoa. Não apenas Rafaela, não apenas Lena. Uma mulher totalmente diferente na qual ela jamais imaginou...

   Aaaaaah, quem estava querendo enganar?

   Rafaela nunca conseguiria fazer isso. Não poderia mudar sua essência. Precisava de Marcela, Cláudia, dos pais, de Eduardo. E, por mais que detestasse essa ideia, precisava de Alex. Aquele que ela pensou que existia. Esse sim ela amou. Esse Alex ela sempre amaria.

   –Preciso falar com você.

   –Cláudia, de verdade, eu não estou com cabeça pra nada agora.

   –Mas a gente precisa conversar.

   –Se for sobre o Ale...

   –Não é... Mais ou menos. Olha, eu não vou falar em como não faz sentido o Alex ter sido preso – Rafaela revirou os olhos.

   –Me explica, então, como foi parar todo aquele dinheiro desviado da empresa pra conta dele no exterior?

   –Não sei, e também já disse que não quero falar sobre isso. O assunto é mais sério. Vitória.

   Rafaela enrugou a testa.

   –Ela deve sair do hospital amanhã e você já parou pra pensar o que vai ser dessa menina? Ela perdeu o tio, o único parente vivo.

   Rafaela sentiu a boca seca.

   –Você fez com que ela ficasse totalmente perdida no mundo – completou.

   –Não me arrependo do que fiz. Alessandro matou minha irmã e sabe-se lá quem mais, isso eu nunca vou perdoar. Mas também não vou deixar a sobrinha dele a deus dará. – ela pensou um pouco – Sei exatamente o que devo fazer.

°°°

   –Igor. Preciso falar com você.

   Ele pareceu despertar de um transe.

   Rafaela tinha entrado sem ser anunciada e mesmo que o oposto tivesse acontecido ele ainda não teria percebido. Sua cabeça estava cheia, ironicamente, com Cláudia e Rafaela.

O Assassino (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora