Capítulo 33: A.V

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   Penelope digitava compulsivamente no computador. Precisava entregar aquele trabalho no dia seguinte e sabia que não estava nem na metade. Sua imaginação estava quase nula. Ela odiava quando seus trabalhos saíam como os de crianças que mal sabem vetorização no Illustrator.

   Eduardo chegou em casa fatigado pelo dia que se passara. Sem contar as palavras de Rafaela – e o beijo – que não lhe saíam da cabeça. Ele temia suas próprias ações a partir de então. A esposa fingiu não perceber a sua chegada. Seus olhos pareciam concentrados na tela do computador.

   –Boa noite – ele falou, colocando sua pasta sobre o balcão da cozinha.

   –Boa noite – respondeu sem subir o semblante.

   –Está trabalhando? Faz tempo que não vejo você fazendo uma animação.

   –É uma logomarca.

   –Ah.

   –Estava com vontade de trabalhar um pouco. Desestressar.

   –Ah – repetiu.

   Ele não sabia mais o que falar.

   Na verdade sabia, só não tinha coragem.

   –Quer me falar alguma coisa? – indagou ela.

   –Sim, eu queria...

   –Se você for falar sobre todas as minhas qualidades – dizia enquanto editava, subitamente a inspiração surgindo – para no final pedir o divórcio, por favor, nos poupe disso.

   –Penelope... – quis retrucar.

   Ela virou-se finalmente, tirando os óculos dos olhos, mostrando-os reluzentes pelas lágrimas.

   –Igor ligou mais cedo. Queria confirmar a data em que assinaríamos o divórcio. Você nunca o cancelou, certo?

   –Pê...

   –Existiu algum momento em que você realmente desistiu dele?

   Não conseguiu mensurar resposta.

   Ela assentiu então.

   –Pois me diga quando. O dia que você escolher para assinarmos o divórcio, lá estarei. Só quero que você se lembre de todas as vezes que fiquei ao seu lado... Todas as vezes que enxuguei suas lágrimas... Porque, Edu, assim que eu sair por aquela porta, eu não voltarei. Por mais que me doa a alma, eu não voltarei. Terá que enfrentar tudo sozinho, e o proíbo de se arrepender depois que estiver chorando mais uma vez. – voltou a atenção para o computador mais uma vez.

   –Penelope, você tem que saber que eu tentei. De verdade.

   Esforçou-se para não sorrir.

   –Eu também. Muito. Pensei que pudesse te amar tanto que você seria inundado pelo mesmo amor, só que nenhum outro sentimento pode entrar em um coração cheio. Uma pena – ela chorou. Silenciosamente. De cabeça erguida. –Eu sei que não sou perfeita, longe disso! – sorriu, irônica –, mas não acho que mereça sofrer desse jeito, prefiro viver feliz sem você do que infeliz com esse amor, Eduardo. É triste, mas é a verdade.

   –Eu te amo, Penelope. Só não é da maneira certa – tentou explicar o que estava tamborilando em seu coração.

   –Qualquer amor vindo de você vai ser bem-vindo.

   –Só me vem à cabeça "perdão". Perdão por não ser o suficiente... Por não ser o marido que eu prometi.

   Penelope apertou os lábios, envergonhada de si mesma por ter deixado a situação chegar a esse ponto.

O Assassino (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora