Capítulo 17 - Cruel

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Elsa
Cerca de vinte minutos antes que tocassem a Foice

Corro como uma criança assustada atrás do lince que nos guia, apertando o arco nas minhas mãos que ainda tremem depois do confronto com Despina. Meu coração pulsa forte e estou de olhos tão fixos no felino, que por vezes tropeço em meus próprios pés. O animal faz a curva no final do corredor e se esgueira para passar pela porta entreaberta da sala do trono.

Estou prestes a alcançar as portas de madeira quando sinto um puxão brusco na cintura, o cajado me fisgando para trás.

- O que você tá fazendo!? - Viro para encarar os olhos desconfiados de Jack.

- Estou sentindo uma energia estranha, alguma coisa não tá certa...

- Jack, nada aqui tá certo, se não entrarmos agora, vou perder a coragem de ver o que tem lá dentro.

Me desengancho do cajado e começo a me virar para a sala do trono.

- Espera - ele me pega pelo braço -, sou seu Guardião, eu vou primeiro.

Antes que eu conteste, ele passa na minha frente e empurra as portas, entrando.

Perco o ar com a imagem. Logo de primeira, não tem como não reparar a Foice, bem ali, levitando no meio do salão e carregando o ar com uma atmosfera tenebrosa, possuindo um efeito quase hipnótico, como um buraco negro que atrai a tudo e não permite que nem a luz escape. A Foice me desafia a desviar os olhos, a lâmina de um aço negro reluzente parece me fatiar só em ficar olhando para ela. E mesmo ressonando esse ar sombrio, não posso negar a beleza da arma.

Minha barriga esfria enquanto caminho como uma sonâmbula para dentro do salão branco e cristalino, finalmente notando o assento que parece com o trono de ferro de Game of Thrones, só que ao invés de ser forjado com espadas, o trono é esculpido com estacas de gelo afiado. Olho ao redor, sentindo arrepios, o fogo das velas no lustre brilha de forma deficiente, como se o calor não fosse bem-vindo e o inverno tivesse chegado aqui primeiro.

- Não gosto disso - Jack segura o cajado na defensiva, se aproximando da Foice -, tudo calmo demais, fácil demais...

Não posso deixar de concordar com ele, isso parece muito com uma armadilha, mas o que podemos fazer? Temos que arriscar. Nervosa, respiro fundo e meus olhos se encontram com os olhos amarelos do lince deitado aos pés do trono. Se felinos sorrissem, eu diria que ele está fazendo isso nesse segundo.

Dou de ombros.

- É agora ou nunca - declaro, pendurando o arco no ombro e reunindo coragem para esticar a mão na direção do cabo da arma.

- Não! - Jack me interrompe, meio nervoso. - Muito bem, não vou deixar você tocar um dedo nessa coisa, Elsa. Eu sinto algo muito errado aqui.

- Mas...

- Deixa que eu mesmo faço. - Ele insiste. - Por favor. Quione me mandou aqui por uma razão. Fica de olho nas coisas.

Torço o nariz, mas acabo concordando, tencionando o cordão do arco e canalizando minha energia fria na forma de uma seta de gelo, que aponto para todos os lugares, esperando que criaturas horrorosas pulem em cima de mim quando ele pegar a Foice. Só que ele está me deixando impaciente com a demora.

- Vamos, Jack, o que você tá esperando?!

- Cuidado - uma voz feminina responde e viro para trás, dando de cara com uma mulher -, não é inteligente ir com tanta sede ao pote.

Demoro um tempo, não muito, para reconhece-la com a toga grega prateada ao invés do suéter rosa e os óculos estilo gatinho, mas é ela. O enorme leque decorado na mão não me engana.

Solstício de InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora