Capítulo 39 - Gritos no Vazio

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Notas iniciais: Bem, era para eu ter postado antes, como um presente de natal pra vocês e um presente de aniversário pra Elsa, já que dia 21 foi solstício de inverno kk mas ainda estou com aquele probleminha chamado "sem internet" (leia: ser pobre) e aí só deu pra publicar hoje... Bom, eu espero que gostem.

Elsa*

"Garota estúpida!", posso imaginar perfeitamente a gargalhada maldosa de Despina em minha cabeça, como quando a enfrentei antes de encontrar Pandora. Sei que se estivesse aqui, seria isso o que a divindade diria. "A esperança é só mais outro mal que nos presenteia com uma visão tola e otimista de um futuro que nunca irá acontecer...".

A angústia é um verdadeiro oceano dentro de mim, arrebentando no meu peito como ondas que se quebram no mar, ameaçam me afogar em desespero, transbordar em lágrimas salgadas e frias de dor.

A esperança é só mais outro mal, ecoa em meus ouvidos.

As palavras de Urano, que estão saindo agora pela boca de Anna, com a voz de minha irmã em tom hostil e olhar afiado, esmagam qualquer sinal de esperança em mim e tudo o que Jack me disse, tudo o que Quione disse... Cada palavra encorajadora já dita sobre minha força tem agora um significado vazio.

— Eu disse que você não seria capaz de vencer essa guerra, criança. — Urano/Anna me ronda, andando ao meu redor como um predador que aguarda o momento certo para abater a presa. — Heróis, sempre tão cheios de coragem, acham que podem enfrentar deuses, mas assim que só a sombra de uma batalha surge, caem por terra como um castelo de cartas.

Engulo seco o bolo dolorido que fecha minha garganta e aperto os lábios numa linha dura para evitar que os espelhos d'água que são os meus olhos transbordem. Puxo o ar para dentro dos pulmões, devagar, equilibrando a frágil estrutura que é meu controle emocional antes de falar.

— Foi uma jogada muito suja — reconheço com uma risada sem humor —, até mesmo pra você.

Urano encolhe os ombros, as nuvens tempestuosas em sua túnica se agitam.

— Eu precisava de um hospedeiro até o solstício de inverno, quando finalmente terei meu próprio corpo. O problema era que, numa casca mortal, eu ficaria muito vulnerável. — O primordial belisca uma das tranças avermelhadas de Anna antes mover os olhos azuis sobrenaturais de volta para mim. — Mas eu sabia que você não seria ameaça enquanto eu possuísse este receptáculo.

O Céu caminha com os pés de minha irmã, parando bem na minha frente, sibilando como uma víbora peçonhenta:

— Pode lutar contra o meu exército, semideusa, pode até mesmo se atrever a me desafiar, mas é incapaz de levantar qualquer arma contra sua irmã, mesmo que por um motivo relevante. Anna será a causa de sua ruína.

Meus lábios tremem na tentativa de formar uma resposta, mas não consigo encontrar minha voz – ela se perdeu no vazio do meu peito. Minha boca fica fechada, só que estou gritando por dentro com toda a potência dos meus pulmões, um grito forte e interminável, mas apagado, abafado, que não dá pra ser ouvido por alguém.

É como um grito no vazio.

O chão está branco de neve ao meu redor e quando penso que vou finalmente desmoronar, uma risada petulante quebra a pressão do ar e faz o primordial virar o rosto na direção de Jack.

— Cara, isso aí que eu ouvi na sua voz por acaso foi medo? — O Guardião apoia os dois braços na haste do cajado que passara por cima dos ombros, um tom divertido vibrando na voz enquanto ele sai do meu lado para rodear Urano, esticando os lábios num sorriso travesso irritante ao analisar o deus. — Olha só pra isso... O tão temido primordial do céu se escondendo por trás do corpo de uma garotinha inocente de quatorze anos — Frost torce o rosto numa careta —, isso sim é vergonhoso... Fala que os semideuses fogem no primeiro sinal de guerra, Urano, mas parece que o covarde aqui é você.

Solstício de InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora