Soluço*
Meu cérebro parece gelatina batida no liquidificador e derramada dentro do meu crânio. Mal consigo abrir os olhos de tão tonto. Levo meus dedos à parte de trás da cabeça que lateja, encontrando entre os cabelos empapados, o couro cabeludo quente e pegajoso. Olho para os dedos vermelhos, o cheiro de sangue é forte e nauseante, mas já estive pior. Fora isso, estou inteiro. Quer dizer, se você não contar com a perna esquerda, substituída pela prótese de bronze celestial mortal construída por Hiro.
— Ai... — O gemido feminino me faz olhar para trás e acordar de vez ao dar de cara com o rosto banhado de sangue de Rapunzel.
— Ah, santo Hefesto — liberto as pernas da sela, conseguindo me virar direito para ajudar a semideusa semiconsciente.
Seguro o rosto dela entre as mãos, examinando, e embora não seja nenhum filho de Apolo, sei que o corte na sobrancelha vai precisar de alguns pontos.
— Zel — chamo —, não durma, aguenta firme aí.
— Eu estou ótima — ela tenta abrir um sorriso, desorientada, piscando forte. — Você que é meio cabeça-dura, Soluço.
Rapunzel e eu demos uma cabeçada um no outro, o que resultou num corte profundo na sobrancelha da semideusa e outro na parte de trás da minha cabeça graças ao nosso pouso forçado.
Pouso forçado, lembro com urgência.
— Banguela! — Pulo para o chão de forma nada elegante, me desequilibrando e contornando o corpo caído do dragão. — Ei, amigão, Banguela... Banguela... Vamos, acorda!
Passo a vista ao redor e finalmente me dou conta do rastro de destruição que deixamos ao cair: árvores quebradas, pequenos focos de incêndio, fumaça... Banguela deve ter tentado tirar os obstáculos da frente para que nossa queda não fosse mortal, o dragão até sofreu todo o impacto do pouso de emergência. Ele salvou nossas vidas.
Viro minha atenção novamente para ele e um bolo na garganta ameaça me sufocar, o desespero acelera o pulso.
— Vamos lá, amigão — meus olhos começam a arder —, temos que fritar muitos monstros ainda.
— Drrrrr! — O Fúria da Noite resmunga baixinho, soltando uma baforada pelas narinas.
— Graças aos deuses — solto a respiração pesada, aliviado, abraçando a cabeça do dragão.
— Soluço — Rapunzel me chama —, onde estamos?
— Não tenho ideia.
Ela se desprende da sela, mais caindo que pulando para o chão, mancando até mim.
— Eu posso curar vocês doi...
— Nem pensar — interrompo. — Você vai morrer.
— Mas eu...
— Nada disso — eu a coloco sentada numa pedra. — Fica aqui enquanto eu penso no que a gente vai fazer.
— Acho que você também precisa de um tempo. — A voz não pertence nem a mim, nem a Rapunzel.
— Tadashi — os olhos verdes e grandes da filha de Afrodite brilham, um pouco mais aliviados ao ver o amigo vivo.
Logo atrás dele o lagarto cinzento aparece dentre as árvores.
Soluço!, Fumaça cumprimenta, fazendo carinho na lateral do meu corpo com a cabeça. Você não teria um iaque assado no seu bolso, né?
— Foi mal — esvazio os bolsos. — Sem iaque assado por aqui.
— Vocês estão bem? — Tadashi coloca o boné chamuscado na cabeça, o rosto sujo de fuligem e arranhado.
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Solstício de Inverno
FanfictionA atmosfera fica tensa e todos se calam num silêncio sepulcral para que Rachel anuncie: "O Cajado guia os quatro filhos de estação para levar o Céu à destruição A flecha da caçada rasga o tempo que acabou para a sétima vela que não mais br...