Capítulo 16 - O Iceberg

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Mar do Norte, próximo à costa norueguesa, dois meses atrás.

Elsa segurou firme o embrulho no estômago, mas isso não tinha nada a ver com o fato de estar em alto mar. Não, o que a causava enjoo era o sorriso doce da jovem mulher de cabelos loiros.

Quanto mais a garota olhava para Holly, mais a barriga esfriava, as mãos suavam. Céus, as pernas de Elsa estavam tremendo!

- Elsa!

- Ahh!

Uma Anna animadíssima havia aparecido do nada, se esbarrando na irmã que se afundava em suas próprias preocupações.

Ao notar que Elsa estava estranha, Anna fez uma careta, seguindo o olhar da irmã para a moça loira adorável com óculos estilo gatinho de armação vermelha e um suéter cor de rosa - a antiga babá delas, que agora cuidava dos filhinhos do irmão do pai. Anna nunca soube exatamente o porquê, mas Elsa detestava Holly sem motivo algum! Tudo bem que andar com aquele leque era estranho, mas...

- Ah, qual é?! Lembro que ela deixava a gente comer chocolate antes do almoço. - Anna piscou, cutucando a barriga da irmã, mas seu sorriso se desfez ao ver que ela continuava nervosa. - Vamos lá, Elsa, um dia só não vai doer nada.

Elsa soltou um longo suspiro e tentou se controlar. Fazia anos que sequer ouvia o nome daquela mulher (e estava muito feliz assim) e aí do nada puff!, de repente sua babá assustadora estava com os seus familiares no barco de férias da tia Indina. Todos os instintos de Elsa diziam que a babá tinha alguma coisa... errada. Ela sentia isso toda vez ao flagrar a mulher olhando para ela com aqueles olhos glaciais por trás dos óculos. A garota ficava nervosa só de imaginar o que Holly estava pensando enquanto se abanava preguiçosamente com o leque decorado.

Mas Anna estava certa, seria só um dia. Era sempre só um dia.

- Eles dançam tão bem juntos - Elsa mudou de assunto, os olhos fixos nos pais se movendo pelo convés ao ritmo da música.

Anna concordou, abrindo um sorriso:

- É mesmo. Eu também adoro o jeito que o papai olha pra ela...

A cabeça de Elsa pendeu para o lado enquanto reparava sobre o que Anna estava falando. Agdar mantinha um sorriso abobalhado nos lábios enquanto observava o rosto corado de Elise. Eles tinham o quê? Quatorze, quinze anos de casados e continuavam com a chama ardente de dois adolescentes.

- Eu quero uma coisa assim pra mim - Anna continuou com ar distante -, quero ser feliz assim, eu quero me apaixonar desse jeito.

- Isso nunca vai acontecer comigo - Elsa murmurou distraída, tão baixinho que a irmã nem ouviu.

A garota não podia negar a beleza de um par, só que ela tinha certeza que não iria se apaixonar por alguém. Ela até tentou (e mais de uma vez!), mas era incapaz de sentir. Ela ouvia todo mundo falar daquele sentimento: ele estava nas revistas teen de Anna, nos programas de tevê, nos livros na sua estante, nos corredores da escola - e até mesmo bem ali na frente dela -, acorrentando seus pais um ao outro.

Para cada lugar que ela virasse a cabeça, encontraria alguém queimando vivo de paixão e, o mais impressionante, gostando disso.

Só que por mais que o sentimento estivesse em todo lugar, aquele tipo de amor não alcançava Elsa de Arendelle.

- Quem sabe? - Um arrepio correu por todo o corpo de Elsa quando uma voz aveludada sussurrou no seu ouvido. - Você comete tantos acidentes com a neve... sem querer, deve ter acabado congelando seu próprio coração. Não se preocupe, se lembra do que eu te disse uma vez?

Solstício de InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora