Epílogo

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Naquele inverno, quando o primeiro floco de neve caiu, uma guerra terrível chegava ao seu fim. Assim que o gelo que anuncia o solstício começou a se acumular na terra; Quando a neve branca ficou vermelha, o deus-titã primordial do Céu, Urano, há muito tivera sua essência dissipada no universo, voltando ao mais profundo sono. Naquele momento, os deuses souberam – e não apenas eles – que o mundo estaria eternamente endividado com uma corajosa menina de cabelos entrançados da cor de cobre.

Porque Anna foi uma heroína.

Mas, ainda que a coragem dela fosse louvável, o preço cobrado pelo seu amor incondicional foi o sacrifício da própria vida. Anna morreu como heroína. Simples assim, o coração parou, estava morta.

E, ao seu lado, a irmã mais velha começava a perceber isto.

— Ela não tá respirando. — A testa de Elsa brilhava de suor frio, o pulso acelerado e as mãos trêmulas ao se curvar e colocar a cabeça no peito de Anna. — Não consigo ouvir o coração dela.

Jack permaneceu quieto ao lado de Elsa, com as sobrancelhas unidas numa expressão aflita. Abriu a boca, mas tornou a fechá-la. Ele queria tocar o ombro da filha de Quione, queria carrega-la e voar para longe de tudo aquilo. Só que, muito embora fosse seu Guardião, Jack Frost não podia protegê-la da dor de perder a irmã mais nova.

— Elsa...

— Ela é forte, vai conseguir sair dessa!

A semideusa fazia massagem cardíaca no corpo inerte, mesmo que o coração retorcido dela também precisasse de ajuda. Ela sabia que Anna ainda podia ser salva, tinha certeza! Não podia acabar desse jeito, Elsa não podia desistir... Seus olhos salpicaram e começaram a lacrimejar, a garganta se fechou. A respiração ofegante denunciava seu desespero. Meus deuses, ela não sabia o que estava fazendo! Mas não podia parar. Entreabriu a boca da irmã e inflou o peito de ar, antes de soprar dentro de Anna, que estufou como um balão e voltou a ficar imóvel.

E não dava para Hiro continuar olhando. Por um segundo, ele se colocou no lugar da garota glacial, viu a si mesmo, tentando salvar Tadashi quando nada mais poderia ser feito. A garganta do filho de Hefesto se fechou e ele teve que secar os olhos. Por sorte, foi nesse segundo em que ouviu o bater das asas de dragões, desviando os olhos daquele tormento.

Numa dança em preto, branco, cinza e vermelho, os dragões pintavam uma fogueira viva no céu, sobrevoando o descampado do Jardim de Cima em espiral, antes de finalmente pousar. Soluço abraçou a cabeça do Fúria da Noite que se aproximou dele, feliz em saber que o animal estava bem.

— Eu vou procurar os outros — Hiro acariciava o queixo do dragão vermelho de olhos amarelos, se dirigindo a Rapunzel e Soluço. — Vocês também deveriam vir.

O cavaleiro de dragões se limitou a baixar os olhos e assentir. Depois se apoiar na sela e de subir em Banguela, lançou um último olhar para a garota que tentava ansiosamente ressuscitar a irmã caçula. Era fácil para Soluço deduzir, no entanto, que, depois de ter perdido todo aquele sangue e ficado tanto tempo sem respirar, não havia mais nada a se fazer para ajudar Anna de Arendelle.

Solstício de InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora