Capítulo 42 - Inimigos

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Elsa*


— Ele tá demorando demais. — Tadashi anda de um lado para o outro, uma veia pulsando na têmpora, irremediavelmente irritado. — Aquele moleque, parece que ele faz de propósito!

— Vanellope já foi dar uma olhada, Tadashi — digo com um desânimo na voz —, mas acho talvez devêssemos ficar na cabana, pelo menos até a chuva passar.

O filho de Hefesto olha para mim, seu mau humor abrandando por um segundo porque sei que ele deve pensar no que aconteceu a minha irmã, enquanto ele está ali, reclamando pelo seu.

— Não podemos perder tempo, Elsa — ele explica cordial —, temos que achar um lugar definitivo, descansar um pouco e seguir.

Suspiro, saindo de perto, me arrastando na chuva. Meus ombros pesam. Estou tão cansada...

Quando passo por Jack, ouço um balbucio de quando ele resmunga alguma coisa consigo mesmo, que entendo mais ou menos como "não gosto desse lugar", enquanto encara a cabana com um olhar mais duro que gelo.

Caminho para a borda da estrada lamacenta, me afastando dos dragões agitados e do resto do grupo, buscando a folhagem densa das árvores como abrigo contra a chuva. A neve vagarosa que cai ao meu redor graças ao meu estado de espírito é tão constante que passo a vê-la como uma parte do meu próprio corpo, como as unhas ou os fios de cabelo. Nem sei mais o que estou sentindo. "Tristeza" não é a palavra certa para esse vazio.

Estou tão ocupada sentindo pena de mim mesma que nem percebo meu Guardião se aproximar. Seu rosto é mais suave agora, como os flocos de gelo leves como plumas no ar à minha volta, diferente da expressão de ainda há pouco. Então percebo que ele só está fazendo o trabalho dele, afinal. Não se trata só de vagar ao meu lado como um fantasma. Jack está sendo forte por mim, sustentando a mim. E eu nunca o vi se reclamar das próprias dores. Só, talvez, quando falou da sua irmã e isso porque fui eu quem pediu.

— Você vai conseguir — ele apoia o cajado no ombro —, e já devia saber disso.

Mas as palavras que derramo soam como minha sentença de morte:

— Talvez Hans esteja certo. Talvez Anna seja mesmo o meu sacrifício. Quem sabe se eu não fizer isso, acaba que o deus do céu que cai diante de mim seja Zeus. E aí o mundo acaba.

— Quanto drama — ele ri. — Essa foi a coisa mais burra que você já disse. E olha que eu já te ouvi dizer que você não precisa de um Guardião.

— Jack...

— Elsa?

— Você não consegue ver?! — Levanto uma sobrancelha, frustrada. — A profecia, ela toda tá finalmente fazendo sentido! Aura vai acabar o mundo inteiro congelado e Zeus e os outros deuses serão destruídos, tudo o que nós fizemos vai ser em vão se eu não tiver coragem de...

Ele fincou o cajado de vez no chão, deixando-o ali e caminhando para mim em seguida. Eu nem tinha percebido o nó dolorido que fechava minha garganta ou a linha d'água que apareceu nos meus olhos até que ele me segurasse pelos ombros, sua voz calma e baixa me foi um tranquilizante.

— Profecias não são escritas em pedra — seus olhos cristalinos, gentis e confiantes. — Por isso são três Parcas, são três caminhos, três formas diferentes de se fazer o destino. Você prevê uma decisão fatal, mas sabe o que eu vejo? Eu vejo a filha de Quione botando Urano pra correr e quebrando todo mundo no pau. E o primordial ficou com tanto medo disso que o melhor que pôde fazer foi se esconder, porque ele sabe que é isso o que vai acontecer.

Preciso esperar passar o efeito do tapa que foram aquelas palavras antes de falar.

— Mas, Jack... A Foice, o sacrifício...

Solstício de InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora