Rapunzel*
Sabe, eu me orgulho de ser filha de Afrodite, mas tenho que admitir: ás vezes, é deprimente saber exatamente o que alguém está sentindo apenas pelas expressões faciais. Depois de finalmente ter acabado a cirurgia no dragão, me permiti ficar encolhida, ouvindo o estalar baixo e melancólico da fogueira enquanto mastigo biscoitinhos sem vontade, reparando nos traços tensos que marcam o rosto dos garotos à minha frente.
Tadashi e Soluço não dizem uma palavra, mas eles não podiam estar gritando mais alto. Ainda que o foco dos pensamentos de Tadashi seja o irmão caçula, eu leio, pelos seus lábios retorcidos, uma raiva fustigante como as forjas do chalé de Hefesto.
E quanto a Soluço...
Sinto a espetada amarga no peito que definitivamente acaba com o meu apetite. Não aguento os olhos foscos e perdidos de Soluço que denunciam a desesperança de alguém que está de luto.
- Eu vou dar uma volta - me levanto de vez, ávida para escapar dali.
- Quer que eu vá com você? - Tadashi se prontifica.
Dou dois tapinhas na frigideira presa no meu cinto:
- Não precisa.
Sou rápida em escapulir para as árvores. Geralmente gosto de companhia, mas sei que deixar cada um de nós sozinhos com os próprios pensamentos é a melhor alternativa agora.
Paro de andar quando me vejo sozinha, erguendo o queixo para sentir nas bochechas o vento gélido do cair da noite. Penso em Jack e a conversa que tive com Tadashi me atinge como um tiro no peito. Ele e Elsa, Jack e eu.
- Você sempre complica as coisas, mãe - murmuro baixinho para Afrodite e, repentinamente, deixo as emoções que eu nem percebia que estava reprimindo fluirem pelas veias, tranbordando pela minha voz que fica uma nota mais alta. - Por que você não me deu preferência?! Pelos deuses, eu sou a sua filha! E Tadashi, sei que ele seria bom para Elsa... Brincar desse jeito com os sentimentos das pessoas é errado.
Crask!
Viro a cabeça de vez para trás ao ouvir o estalar de um graveto se partindo.
- Soluço? - Estico o pescoço, alarmada. - Tadashi?
Silêncio absoluto.
A brisa de outono que provoca uma chuva vagarosa de folhas secas, corre pelos meus cabelos e estreito os olhos para além das sombras fantasmagóricas das árvores sob a meia-luz do crepúsculo. Minhas mãos suam, o pulso acelera; sinto as veias injetadas de adrenalina. Assumo posição de combate e assim que desembainho a frigideira, aguçando os sentidos, mal tenho tempo de ouvir o rasgar do vento pelo vulto que capto com a esquina dos olhos, atingindo meus dedos que se soltam da frigideira que voa longe.
- Au! - Reclamo puxando minha mão machucada, seguindo com os olhos para o chicote na mão da menina que me atacou.
- Boa mira, Úrsula - uma garota de cabelos vermelho-cereja aparece por trás de mim, me encarando com um par de grandes olhos azuis enquanto aponta o tridente de ouro imperial na direção do meu rosto, ameaçando. - E você nem pense em se mexer, a não ser que queira esses caras mortos.
Viro o rosto para o lado dando de cara com a figura de Tadashi e Soluço, amordaçados, tentando se livrar das cordas.
- Aurora conseguiu domar as feras - um rapaz chega anunciando -, Bella e eu checamos o perímetro, esses três são os únicos semideuses aqui.
A garota ruiva assente uma vez com a cabeça, andando até mim em seguida:
- Onde está o resto do seu grupo? Com quem está a Foice?
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Solstício de Inverno
FanfictionA atmosfera fica tensa e todos se calam num silêncio sepulcral para que Rachel anuncie: "O Cajado guia os quatro filhos de estação para levar o Céu à destruição A flecha da caçada rasga o tempo que acabou para a sétima vela que não mais br...