Capítulo 40 - Heroína

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Rapunzel*


Agora, já estamos longe por demais do massacre para continuar ouvindo o pesadelo que foi o ataque do deus do medo, mas ainda assim, sinto o coração a mil por hora. Todos aqueles rostos aterrorizados... Foi horrível pra mim, poder ler cada uma daquelas expressões – elas acabaram despertando meus próprios medos, me deixando tão atordoada que nem faço ideia de como escapei.

Agora, estou nas costas de Banguela, que plana no ar com as longas asas abertas como uma lona preta estirada no céu, conduzida por Soluço. É impressionante como a ovelha negra do chalé de Hefesto consegue se guiar tão bem em espaço aéreo, mas não passo muito tempo reparando nisso.

Meu cabelo é um emaranhado dourado que sofre pelo vendaval violento do início de tempestade que perturba o céu e, levando em conta que Urano acabou de nos fazer uma surpresa, o verde da floresta lá em baixo parece mais seguro e nos convida para um pouso de emergência.

Precisamos admitir que, mesmo que Urano não esteja com seu poder total, o primordial já tem força o bastante para fazer um belo estrago se continuarmos em sua área de domínio.

Falo para Soluço por cima do ruído do vento:

— Não temos escolha, precisamos pousar!

— Eu sei! — Ele responde, fazendo com os dedos um sinal de parada para os outros semideuses.

O dragão vermelho de Hiro vai na frente, descendo ligeiro em espiral para o chão, como um parafuso perfurando o ar. O pégaso da cor de carvão, o famoso Blackjack, passa cortando por mim com Percy e Annabeth, rápido como se apostasse uma corrida. Acho que o animal só está feliz por finalmente se ver livre da jaula apertada que o transportava para o Acampamento Júpiter, foi sorte ter sido encontrado.

— AINDA NÃO GOSTO DISSO!!!

Viro a cabeça e espio para baixo ao ouvir Ralph rugir emburrado. O peso do ciclope mal-humorado é dividido entre Banguela e o dragão cinzento que carrega Tadashi e Astrid.

— Nós já vamos descer! — Grito de volta, o que não melhora nem um pouco o humor do ciclope.

O majestoso dragão branco da neve passa bem abaixo de nós, de modo que eu consiga ver o topo das cabeças de Jack e Elsa; a trança platinada da filha de Quione ricocheteia no ar atrás dela, os fios rebeldes de Frost mais desalinhados do que nunca.

Faço um esforço descomunal para desviar os olhos e evitar o terremoto de emoções, mas simplesmente não consigo. As coisas passam a se colorir de cinza, perdem o brilho e o entusiasmo, como eu. Se uma lança atravessasse meu peito doeria menos.

E todo mundo achando que o chalé 10 arrasa corações, sorrio por dentro e sem humor. Que piada de mau gosto.

De repente, uma pincelada branca passa desgovernada pela esquina dos meus olhos, chamando atenção. Asas brancas. Uma bota. A camiseta do Acampamento Meio-Sangue, mais berros desesperados. A imagem é uma confusão só.

— O que é aquilo? — Franzo o cenho, tentando discernir o pequeno tornado que na verdade é um pégaso tentando se livrar a todo custo de seu cavaleiro.

Tadashi aponta com uma careta, a voz quase levada pela ventania:

— Aquele ali é o Rider?!

Sem dúvida.

Flynn luta para permanecer montado no pégaso rebelde que não permite ser domado; o semideus mais cai do que aterrissa. No fim, pégaso e semideus se dirigem ao solo capotando em torno de si mesmos.

Solstício de InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora