Capítulo 27 - Fugitivos

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Notas iniciais: estou postando esse capítulo como um presente para a leitora @emmanuelle-_- que fez aniversário no dia 30/04. Meus parabéns, linda <3



Hiro*

Um arrepio corre pelas minhas costas quando Ralph mostra os dentes tortos num sorriso e estala o pescoço antes de dizer em sua voz rouca arrastada:

- Pode deixar comigo.

- Ei, cara, qual é?! - Ergo as mãos em rendição, meio desesperado. - Vocês não podem fazer isso!

- Ah, nós podemos sim - a menina do taco de beisebol ameaça.

- E nós vamos - o bafo azedo do monstro me faz torcer o rosto numa careta quando ele se curva perto de mim para me erguer pelo capuz do moletom esfarrapado.

Caramba, na arte de se dar mal ninguém me supera!, sacudo os pés no ar, tentando chutar o ciclope, em vão. Minha respiração entrecortada, o pânico impregnado nas veias.

A psicopata tampinha se arma com o taco, ela ainda nem encostou em mim, mas o meu estômago se contrai violentamente, antecipando o ataque. Olho para os lados procurando uma saída, nenhuma porta, nenhuma janela, máquinas de fliperama, Mijão de Herói, muita poei... Espera aí!

- Quais são as suas últimas palavras - ela arqueia a sobrancelha -, parceiro?

- Mijão de herói, mijão de herói! - Declaro afobado como um retardado ao tempo que meus olhos correm de volta para a máquina de letras amarelas com o nome do jogo do lado, que graças à minha dislexia ao invés de ter visto "missão de herói", eu li "mijão de herói".

- O que você disse? - O ciclope pisca, surpreso.

Movo os olhos pela a dupla dinâmica, nem mesmo eu sei o que acabei de dizer, mas pegou todo mundo desprevenido.

"Quando quiser fazer amigos...", Hermes/Mercúrio havia dito.

- Hmmm - a garota estreita os olhos e ergue o nariz empinado, desconfiada. - Coloca ele no chão, Ralph.

O monstro me põe no chão, ainda me prendendo pelo meu capuz para que eu não fuja e me forçando a ficar de frente para a menina, de forma que eu seja obrigado a encará-la. Ela se aproxima, exalando um cheiro açucarado familiar, e coloca uma mão no quadril, se apoiando no taco com o outro braço.

- Essa é a parte em que você começa a se explicar, miolo-mole. Onde ouviu isso?

Engulo seco com um som meio alto, respirando fundo antes de falar pra não gaguejar.

- Lorde Hermes... Quer dizer, Lorde Mercúrio me contou e...

A garota me interrompe com uma risada sem humor:

- Os deuses não dão sinal de vida há semanas e agora você aparece aqui quebrando o teto dos outros e dizendo que o meu pai te deu a nossa senha secreta?! Conta outra, vai!

- Pirralho mentiroso - Ralph solta uma baforada com fedor de peixe podre na minha cara, me fazendo tossir.

- Ei, eu tô falando sério - abano a mão na frente do rosto, fazendo uma careta. - Olha, eu sei que é difícil de acreditar, nem meu próprio pai fala comigo, mas desde aquela profecia e desde que a gente pegou a Foice em Rocky Moutains...

- Calma aí! - Ela me para. - Você disse "Foice"?! Tipo, aquela Foice que tá deixando todo mundo louco?

- Acha que esse pivete é um deles? - O ciclope pergunta mal-humorado.

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