Conversa

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—Passeio, é?

Noah e sua namorada estavam em seu quarto. Ele deitado sobre as pernas dela e ela acariciando os cabelos dele, que ondulavam pelo seu colo.

—Sim. Dia cinco de novembro. Cai em um sábado. —Marcy respondeu.

O vento vinha da janela trazendo consigo um pouco dos pingos da chuva que desabava lá fora. Era setembro, o que significava que estavam no Outono, o que, por sua vez, significava época de chuvas.

—E será para onde? —Noah tornou a perguntar, fitando para os olhos verdes de sua namorada. Ele os amava. De verdade! Para ele, se os olhos de uma pessoa eram as janelas da alma dela, a alma de Marcy era linda. A mais bela alma de todo o universo! Ás vezes ele desejava ser vesgo, pois amava igualmente os cabelos ruivos da menina e queria poder olhar tanto para seus cabelos quanto para seus olhos ao mesmo tempo. Eram como ferrugem moldada em fios lisos, cheirosos, macios e ondulados.

—Um acampamento. Você sabe, aquele que sempre tem no final do ano... Aulas de biologia ao ar livre, interação com a natureza e blábláblá.

—Ah, sim. Ano passado, sem dúvidas, foi o melhor ano. —Noah entortou seus lábios em um sorriso.

—Por quê?

—Oras, por que ficamos todos os dias escondidos na barraca, nos beijando. Você se lembra, né?... Bom, todos não. Teve um que eu acordei e você não estava lá, mas eu te perdoo.

Marcy demorou um pouco, mas acabou abrindo um sorriso de lado. Ela parecia lembrar-se bem daquele acampamento. Do que aconteceu lá. Do que fez enquanto Noah dormia.

—Sim, mas sabe o porquê de eu não estar lá...

—O senhor Bummer te encontrou no caminho do banheiro e te arrastou para a caminhada matinal. Os garotos do time de futebol me disseram.

—Isso aí. — Confirmou ela. A menina não parecia muito feliz, mesmo tendo um sorriso nos lábios. Era perceptível que, mesmo que sua alma fosse bela, ela chorava por algum motivo. Noah notou isso. Na verdade, Noah vem notando isso desde o primeiro encontro deles após o acidente. Era como se ela tivesse algo para fazer ou falar, mas algo a proibisse ou atrapalhasse.

O garoto levantou a mão e chegou aos cabelos de Marcy, onde entrelaçou seus dedos aos fios.

—Marcy... Você... O que está acontecendo? Quer dizer... Desde que nos encontramos após o acidente, seu olhar não é exatamente como antes... Continua bonito, mas um tanto triste.

—Hm? —Fora como se ela tivesse sido pega de surpresa. A menina não esperava que Noah tivesse notado que passava por algum tipo de problema ou coisa assim. —Ah... eu... não, não é nada. —A garota balançou a cabeça e desviou o olhar para a parede, onde haviam pôsteres e fotos colados.

—Vamos lá, qual é! Sou seu namorado... precisa confiar em mim... eu só não entendo. Quer dizer, você estava bem antes do acidente. É por minha causa que está assim? Eu estou bem. Estou vivo. Deveria ficar feliz por isso, não triste...

Relutante, a garota acabou por baixar o rosto e tornar a ficar frente a frente com seu namorado.

—Tudo bem... eu vou abrir o jogo com você. Há muito tempo preciso te dizer isso e... sei lá, nunca acho um jeito. É complicado para mim... —Marcy fechou os olhos e respirou fundo. Ela os abriu novamente e continuou. —Minha avó não está nada bem... Ela está tendo ataques no pulmão ou sei lá o quê... Não consegue respirar direito.... às vezes nem respira. Ela sempre teve asma e bronquite, mas nunca foi tão sério como agora... você assim e ela daquele jeito... Não queria que tivesse mais um problema em sua cabeça...

As vicissitudes da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora