Ligação

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—Alô?

—Alô, Noah? Oi!

—Marcy! Como você está? Por que não atendeu minhas ligações, ontem? Nem as da véspera de natal? Eu te liguei, tipo, umas quinhentas vezes. —O garoto falava de forma elétrica, soltando uma pergunta atrás da outra, ansioso pelas respostas, mas ainda tentava manter uma linha calma, o que não foi possível.

—Oi? Ontem? Ah, desculpa, amor. Quase não toquei no meu celular esses dias. Deixei no quarto, pendurado no carregador, e passei os dias todos com meus avós, praticamente. A vovó não gosta muito que eu use telefone quando venho aqui, sabe? Ela é, tipo, tradicional. Sei lá.

—Ah... então quer dizer que você esteve na sua avó o dia inteiro? E todos os dias? Até ontem? —Sua voz já havia perdido um pouco da animação. Começava a ganhar um tom atônito.

—Sim, ué, para onde mais eu iria? —A garota soltou uma risada. —Não tinha muita coisa para fazer, mas assistir especiais de natal e comer rabanada foram o suficiente para mim. Por quê?

Silêncio momentâneo e um suspiro profundo chiado, até que a resposta veio.

—Nada... por nada, s-só... só curiosidade. —Ele gaguejara. Parecia tentar manter o tom de voz.

—Jura? Nada mesmo? Bem, Se você diz... Mas, então — O tom de voz da menina teve um pico de animação. —O que fez de bom, ontem?

—Ah, eu... Eu assisti televisão com meus pais e... E fiquei jogando alguns jo...

—Noah, você está chorando? Sua voz mudou de repente. Está meio estranha. —Indagou a menina, o interrompendo. E, de fato, a voz do menino começara a oscilar. A respiração dele ficara mais pesada, podendo ser nitidamente ouvida através do telefone.

—O quê? Não, não estou. —Ele tentou negar, mas era difícil de acreditar em sua afirmação.

—Noah, o que está acontecendo? Eu conheço sua voz de choro.

—Já falei que não estou, caramba! —Estressado, ele exclamou. Nem tentava mais esconder seu choro. Já havia sido tomado por uma mistura de desespero e desolação. Conseguira a confirmação que queria. E ela não o agradava —Preciso desligar.

—Não, espera! Me fala o que houve! Noah! —A menina até tentou, mas não conseguira. A linha ficou muda e mais nenhum som fora ouvido. Ele desligou.

Com as mãos cobrindo o rosto, o garoto tentava secar as lágrimas que escorriam de seus olhos. Estava deitado sobre a cama, vestindo roupas de frio, com o celular ao lado do corpo. Ele não queria acreditar que aquilo era verdade, mas, ouvindo o que Marcy dissera, ele tinha certeza de que ela estava mentindo. A avó dela confirmou para ele que a garota nem se quer fora lá visita-la no natal, quem dirá passar todos os dias junto à senhora.

O celular vibrou e, quando ele olhou para o lado, viu a foto da namorada. Pensou se deveria atender, mas, se o fizesse, o que ele faria? O que falaria? Contaria que ligou para a avó dela e que ela disse que a garota não estava lá? Ou diria "Desculpe, caiu um cisco no meu olho"? Não. Noah não podia fazer nenhuma dessas coisas. Ele não tinha coragem de confronta-la, pois sabia que, mesmo que ela estivesse mentindo, a garota o ganharia em uma discussão. Ele também não queria terminar o namoro. Amava muito Marcy para deixar que isso acontecesse. Noah precisava de tempo. Tempo para pensar. Por isso, ele desligou o telefone.

As vicissitudes da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora