—Isso mesmo. Bora, força nessas pernas, seu molenga! Quero ver passos, pas-sos! — Exclamava Matheus, encorajando Noah. Ambos estavam em uma passarela reta e estreita, com um corrimão em cada lado. Noah estava de pé, sustentando o peso de seu corpo com os braços apoiados nas barras dos corrimãos enquanto tentava dar passadas e Matheus seguia logo atrás, dando assistência e incentivo, pronto para caso seu paciente não aguentasse mais.
—Eu estou tentando, mas, Argh! É difícil... — O rosto de Noah estava vermelho por conta da força que fazia em seus braços. Ele fechou os olhos e concentrou-se em suas pernas. Somente nelas. Com muita dificuldade, a perna esquerda mexeu-se e deslizou pelo chão até a frente da direita.
—Muito bem! É isso aí. Mais um pouco. Vamos, que a passarela é curta. Mais cinco passos e terminamos.
—CINCO? — Aquilo não havia ajudado muito Noah. O menino tinha dado apenas dois e estava morrendo, quase desistindo. Mais cinco passos seriam demais para ele. — Está louco?
—Deixa de preguiça! Vamos! — Matheus colocou suas duas mãos na cintura de Noah e o ajudou a sustentar o peso do próprio corpo. Ele deu um passo para a frente, mantendo ambos os corpos próximos e incentivou novamente. — Mais um passo! Bora!
Noah respirou fundo e permaneceu com os olhos fechados. Exercendo ainda mais força sobre seu corpo, ele deu mais um passo, arrastando os dedos no chão acolchoado, e repousou o pé direito em frente ao esquerdo. O menino soltou o ar pela boca, expressando alívio. "Agora faltam apenas quatro" Ele pensou.
—Isso aí! Mais um! Vai, vai, vai, vai!
—Dá pra esperar? Isso cansa! E dói! — Noah exclamou e contorceu o rosto, sentindo os braços tremerem. Suas pernas não estavam ajudando muito na sustentação. Na verdade, estavam apenas o puxando para baixo e dificultando o processo.
Matheus respirou fundo e olhou para a frente, fitando o final da passarela. Estava tão próxima, mas, ao mesmo tempo, tão distante. Ele sabia que era pedir muito que Noah desse os passos, era apenas o segundo dia com o novo tratamento e o garoto estava indo muito bem, considerando a pouca prática.
—Tudo bem, Noah. É o seguinte. — Matheus empurrou o menino para cima, ainda segurando em sua cintura. — Olhe para a frente. — Noah não entendeu o motivo do pedido, mas acabou obedecendo. O garoto encheu o pulmão de ar e abriu os olhos, fitando onde o corrimão acabava. Matheus prosseguiu. — Agora, imagine que aquela garota ruiva está ali, te esperando. Marcy, não é? Então, imagine que ela está lá, com os braços abertos doida para te dar um abraço.
Noah franziu o cenho, mas acabou sorrindo. A tentativa de Matheus lhe parecia boba, mas a intenção era nobre.
—Porém! — O estagiário continuou. — Ela está sem roupa! Toda nua! Os peitos dela balançam de um lado para o outro enquanto ela torce por você. "Vem, Noah, vem! Me dê um abraço gostoso e apertado!"
Por um momento, o garoto não teve reação. Noah franziu o cenho e ficou fitando o ponto onde a suposta Marcy imaginária estaria. Depois, veio a risada. A boca do menino abriu-se em um logo arco e ele fechou os olhos de novo, tentando conter-se, embora fosse inútil.
Os braços de Noah começaram a perder as forças e fazê-lo descer lentamente, enquanto ele ainda ria. E, então, o menino soltou. Para sua sorte, Matheus envolveu os braços por sua cintura e o ergueu novamente, o levando na direção da maca.
—É, acho que está bom por hoje. — Matt concluiu ao colocar Noah sentado na maca. O garoto já havia parado de rir, mas ainda secava as lágrimas nos cantos dos olhos.
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As vicissitudes da vida
RomanceÉ curioso o que um acidente de carro pode fazer na vida de suas vítimas. É algo com um poder tão destrutivo e impactante, embora tão normal de se ver nos noticiários da televisão. Alguma vez já imaginou o que acontece com as pessoas após o acidente...