Naquela quarta-feira, quando dizia-se tchau para fevereiro e olá para março, Noah voltou a ir para a escola. Não estava muito empolgado, pois sabia que reveria sua Marcy e Greg e ainda não tinha força nem vontade para olhar nos olhos dos dois. Mas ele precisava. Tinha um plano. Eles tinham um plano.
Peggy e Matheus se juntaram a Noah para que pudessem armar uma emboscada para desmascarar de uma vez por todas Marcy e dar a ela a lição que merecia. Muitas ideias surgiram tanto do lado da japonesa quanto do aspirante a fisioterapeuta, mas nenhuma veio de Noah. Ele apenas ficara quieto durante toda a discussão e concordando vez ou outra com o que diziam. Peggy pensou em encurralar a menina no corredor da escola enquanto filmavam e intima-la até que ela contasse a verdade, depois jogar tinta azul no cabelo dela e estragar o ruivo natural perfeito que ela tinha. Matheus foi um pouco mais extremo na ideia... E foi a que Noah aceitou melhor.
—Podemos segui-la, como fizemos da outra vez, só que até o final. Quando ela estiver com o seu melhor... digo, ex-melhor amigo, pegamos eles com a mão na massa e os humilhamos.
—E jogamos tinta azul no cabelo dela!
—Não, nada de tinta. — Noah balançou a cabela. — Tudo bem, Matheus, podemos fazer isso. Mas não sabemos quando eles vão se encontrar. Não quero mais perder a fisioterapia esperando Marcy sair de casa entocado dentro do seu carro. E isso também não vai ser bom para você.
—Você tem razão... — Matheus suspirou e virou-se para a janela, encarando o céu noturno através do vidro. Como se tivesse tomado um soco, Matheus piscou rápido e tirou o celular do bolso. — Já sei. Para a sua sorte, tenho amigos que fazem informática na faculdade. E, para a sua maior sorte ainda, um deles me deve um favor. Nunca fiquei tão grato por alguém deslocar o ombro antes.
E lá estava Noah, pondo o plano em prática. Como qualquer ótimo plano, ele tinha etapas. Eram 3, ao todo.
Primeira etapa: O celular
Quando Noah entrou na sala de aula logo após o primeiro sinal tocar, o menino pôde ver Marcy sentada em uma das primeiras carteiras. Ela conversava com Ashley, uma de suas amigas líderes de torcida. De costas, ela não viu Noah ao entrar, mas sua amiga deu uma cutucada nela e apontou para ele. Quando Marcy se virou, ela sorriu abertamente. Ela o chamou com um gesto de mão, mas o Sr. Blueman já começara com a aula, então Noah fez um sinal indicando que falaria depois com ela e rolou as rodas de sua cadeira para o fundo da sala, onde havia uma mesa sem cadeira.
A todo o momento o menino cadeirante revisava o plano em sua mente. Chegou até mesmo em falar em voz alta para si mesmo, tomando cuidado para que ninguém o ouvisse, claro. Seu olhar era fixo em Marcy, algumas carteiras à frente. Mal conseguiu prestar atenção na aula de biologia. Três tempos torturantes de espera finalmente tiveram fim e o sinal do almoço soou. Noah sacou seu celular rapidamente e digitou no chat de Matheus:
"Horário do intervalo. Fica ligado"
A resposta veio em menos de trinta segundos.
"Okay, estamos prontos"
Sem que percebesse, a menina de cabelos ruivos se aproximou dele e parou ao seu lado, apoiando uma das mãos na mesa.
—Com quem está falando?
Subitamente, Noah apertou o celular contra o peito e levantou a cabeça. deslisou o aparelho para o bolso e forçou um sorriso.
—Meu fisioterapeuta. Nada demais... E, oi.
—Oi. — O sorriso dela não deixara de ser lindo por conta de sua traição. Noah ainda gostava da menina e ele nem tentava negar isso. Foram mais de três anos juntos, não seria fácil deixar de ama-la. — Você sumiu da escola, fiquei preocupada com você. Não atendeu minhas ligações também.
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As vicissitudes da vida
RomanceÉ curioso o que um acidente de carro pode fazer na vida de suas vítimas. É algo com um poder tão destrutivo e impactante, embora tão normal de se ver nos noticiários da televisão. Alguma vez já imaginou o que acontece com as pessoas após o acidente...