As Vicissitudes de outrem: Yasmim Vandergeld

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Uma coisa que eu, como narrador da história que estão lendo, aprendi com as pessoas que envolvem essa trama foi que não existe pessoa perfeita. Todos possuímos defeitos, todos temos problemas. Não importa o nível ou o gênero. Não importa onde nem quando. Algumas são abertas e têm a coragem de falar com alguém sobre eles, como Vitor. Outras não são bem assim. Sentem vergonha de suas vicissitudes e escolhem o caminho das máscaras, escondendo seus problemas em sorrisos e em uma personalidade alegre. A história que vão ler agora é a de uma pessoa que escolheu acolher o segundo caminho para si e aguentar a dor calada. Essa é a história de Yasmim Vandergeld.

O primeiro problema a destacar de Yasmim é sua saúde. A menina nasceu prematura de sete meses e meio e sofreu muito nas primeiras semanas de vida. Respirava por máquinas e não podiam tirar o olho dela por nada. Precisou de cirurgias no coração e no pulmão para que conseguisse alcançar expectativas de que sobreviveria. E ela conseguiu, sobreviveu. Mas teve sequelas de tantas cirurgias e problemas quando bebê. Sua mãe falava que ela estar viva era um milagre.

Listarei todos os problemas relevantes que Yasmim tem em sua saúde:

· Insuficiência respiratória;

· Insuficiência cardíaca;

· Imunidade baixa;

· Asma;

· Bronquite;

· Problemas de atenção;

O segundo problema a destacar tem ligação com o primeiro. Yasmim tem dificuldade em aprender. Ela possui dois pais professores, Lanna e Robert Vandergeld. Ambos dão aulas em escolas muito bem avaliadas e, para eles, sua única decepção, como mestres, foi não conseguir fazer de sua própria filha um gênio, como seu irmão mais velho. Yasmim tentava de verdade entender as matérias, mas elas simplesmente não entravam em sua cabeça. Obviamente, senhor e senhora Vandergeld sabiam do problema da menina, mas eles, principalmente Lanna, não aceitavam ter uma filha burra. Eles continuavam e continuavam empurrando lições dentro da cabeça da menina, o que a deixava bastante deprimida e, muitas vezes, a fazia chorar.

—Mas, mamãe, eu não estou entendendo. — Esse episódio acontecera no quinto ano do fundamental. Yasmim era a única aluna de sua turma que não conseguia fazer contas de dividir e de multiplicar. Ela usava todos os seus dedinhos para contar, mas isso não ajudava muito.

—Como não?! É fácil e eu já te expliquei mais de mil vezes! Vamos! Quanto é três vezes sete? — Sua mãe, Lanna, estava com as mãos apoiadas sobre a mesa e olhava furiosa para sua filha. Ela queria resultados. Queria que a menina aprendesse. Mas ela tinha um processo lento e isso Lanna não queria. —Anda!

—É... É... — Yasmim olhou para seus dedos, procurando a resposta, mas, ao ver que ela não estava ali, seus olhos começaram a encher d'água e logo ela já não conseguia enxergar nada. As lágrimas desciam pelas bochechas, caindo de seu rosto sobre seu vestidinho lilás. —Eu não sei, mamãe. Desculpa. Por favor, não fica zangada.

—EU CANSEI! ROBERT, É SUA VEZ! — A mulher seguiu para a cozinha com as mãos na testa e, lá, explodiu com o marido, que tentava acalma-la.

—Acalme-se, querida. Ela vai pegar. Com o tempo, ela aprende.

—Ela está no quinto ano e quase não sabe multiplicar! Robert! Isso é inaceitável! Eu não quero uma filha burra!

—Lanna! Acame-se! Ela vai aprender. Não se preocupe, está bem? Eu vou lá, falar com ela. Talvez consiga fazê-la aprender, você coloca muita pressão sobre a menina.

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