Sanduíches

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Semanas se passaram até que Noah se viu em Maio, às vésperas da formatura, que ocorreria no mês seguinte. O inverno já havia se extinguido, a primavera se estendia por dias de tempo calmo e ameno e, logo, o verão traria o calor que costumava fazer o garoto não querer sair de casa.

Noah havia passado com êxito em todas as provas que fizera. Desde matemática a história, teve resultados notáveis, e isso foi o suficiente para chamar a atenção de algumas faculdades, incluindo a da Universidade de Illinois, a tão cobiçada por Noah. Quando recebera a carta de aceitação, nem acreditara. A primeira pessoa que ficou sabendo foi sua mãe, que começou a berrar e agradecer a Deus. Depois seu pai e irmãos, que o parabenizaram de formas menos histéricas. Aí veio Peggy, que passara para publicidade na universidade de Chicago, a qual ficou viajando em seus planos para o futuro, falando em quantos filhos teria, sobre suas férias no caribe e festas em iates caros junto de Noah. Marcy veio logo em seguida. Seu relacionamento com a menina estava estável. Eles conversavam, saíam, sentavam junto na hora do almoço. Porém, Noah ainda não conseguia beija-la. Toda vez que ele percebia uma oportunidade, sentia algo dentro de si, como uma amargura, que o fazia recuar e mudar de assunto. Ele queria contar para Matheus também, porém havia dois meses que eles não se falavam.

Desde o ocorrido dentro do consultório, quando Noah fora beijado, Matheus sumira. Nunca mais apareceu para as sessões de fisioterapia. O médico supervisor de Math disse que ele precisou trocar de horário por problemas pessoais, e que ele assumiria o papel de seu estagiário dali em diante. Aquilo fez Noah se sentir mal. As últimas palavras do garoto pesaram na mente dele e, por alguma razão, tinham certa culpa no motivo de Noah não conseguir beijar Marcy.

Quanto às pernas de Noah, elas voltaram a funcionar. Isso acontecera um mês antes, no final de Março, quando ele se tocou de que não precisava mais das muletas, ao levantar da cama para pega-las e não cair. Um tanto gozado.

Quando apareceu na escola andando na semana seguinte, mesmo que ainda mancando e às vezes precisando se apoiar em algumas coisas, todos ficaram em choque. Parecia que nenhum deles acreditara que Noah voltaria a andar um dia. Até mesmo Greg ficou petrificado nos primeiros instantes. Peggy, que sempre teve as reações menos esperadas, agarrou o amigo em um abraço forte e ficou gritando, rindo e chorando ao mesmo tempo. Aquele seria um momento perfeito para tascar um beijo de cinema em Marcy, porém, mais uma vez, ele não conseguiu.

—Então, acha que eu ficaria melhor de vermelho ou de verde? —Perguntou a menina ruiva, de pé em frente ao espelho da porta do guarda-roupa, no quarto de Noah. Ela esperou a resposta, porém não veio. Então Marcy se virou e encontrou o namorado sentado na cama, olhando para a janela, pensativo. —Noah?

—Hm? —O menino murmurou, virando para a garota e piscando. —Verde. Quer dizer, vai combinar com seus olhos e realçar seu cabelo. O vermelho ficaria estranho.

Marcy sorriu.

—Também acho. — Então, ela voltou-se para o espelho, ajeitou o cabelo e foi até a cama, onde deitou e colocou a cabeça no colo de Noah. A menina parecia tão leve e em paz, parecia até saltitar às vezes. Deveria ser difícil administrar dois relacionamentos e, agora que se resolvera com Noah, tudo ficara mais fácil. —Temos que ver sua gravata. — Marcy olhava para cima, encontrando o rosto do namorado. —Acho que azul claro ficaria ótimo.

—Pares não têm que ir com a gravata e vestido combinando no baile de formatura? Tipo, eu pensei que fosse uma regra.

—Sim, mas verde não fica muito bem com seu tom de pele.

—Talvez, se eu usar um verde mais escuro ou um verde azulado...

—Sim, isso seria perfeito. — A menina levou as mãos até o cabelo do namorado. Ela enrolou os dedos nas mechas bagunçadas de seus fios, que estavam maiores do que costumavam ser. — É bom ter um namorado que pensa em tudo.

As vicissitudes da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora