Baile de inverno: Preparativos

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Baile de inverno: Um dos muitos encontros sociais em que adolescentes do ensino médio podem desfrutar de festividade, bebidas e muita vadiagem. O típico baile que acontece no ginásio da escola e que faz homens alugarem smokings caros, limusines e humilharem-se com a esperança de ouvir um "eu aceito", após o pedido repetitivo de "Você quer ir ao baile comigo?", e mulheres arranjarem vestidos lindos, exuberantes e, claro, com o preço o olho da cara e sonharem com o príncipe encantado vindo lhes pedir para que os acompanhe neste evento tão ilustre.

Também é um excelente meio da escola levantar fundos para reparos, armários novos e projetos futuros. Traduzindo: Baile de inverno é um troço legal que, como qualquer outro Troço legal, tem seus altos e baixos.

Noah estava bem animado para ir ao baile. As aulas da véspera do natal haviam terminado e o garoto estava plantado do lado de fora, esperando sua namorada sair. Dali, ambos seguiriam para a loja de roupas, alugar o Smoking de Noah e o vestido de Marcy. O menino vasculhava o local com os olhos, indo de adolescente a adolescente até encontrar sua amada. Ela vinha abrindo espaço entre a multidão no corredor, como se eles tivessem respeito pela presença dela e nem ousassem encostar nela. Era como uma daquelas cenas de filmes em que a gostosona sai da sala de aula.

A menina de cabelos ruivos aproximou-se do namorado e abriu um sorriso de lado, embora não fosse exatamente de alegria. Era o tipo de sorriso que as pessoas davam quando tinham alguma notícia ruim para dar. Marcy soltou um suspiro e inclinou seu corpo para a frente, acariciando os cabelos do garoto.

—O que houve? — Noah logo perguntou. Ele era bom em decifrar as emoções de Marcy. Ao menos as que ela deixava transpassar.

—Minha avó. — A menina ergueu o corpo e levou a mão até o cenho, o segurando e fechando os olhos. — Mil desculpas, Noah, mas não vou poder ir ao baile de formatura. Minha avó piorou de novo e minha mãe quer que eu vá passar o Natal junto da família na casa dela. Pode ser o último natal da Nona e eu me sentiria horrível se não estivesse lá junto a ela.

Noah ficou triste inicialmente, mas acabou abrindo um sorriso de lado. Ele queria muito ir ao baile, mas tinha que ser com a namorada. Se não fosse, não teria graça. Por outro lado, ele entendia o dilema que Marcy estava passando. Ela amava demais a avó, ele nunca iria se perdoar caso a velhinha morresse e Marcy não tivesse tido seu último natal junto dela por causa dele.

—Ah, tudo bem. — O menino falo usando o máximo do pouco talento artístico para encobrir a insatisfação. — É pela sua avó, não é mesmo? E, para falar a verdade, eu não estava lá tão afim de ir ao baile. Acho que vou ficar em casa mesmo, assistindo algum filme e comendo as sobras da ceia.

—O quê? Claro que não. Noah, arranjamos um outro par para você, para que vá como amiga, não sei. Quero que você se divirta no baile mesmo sem mim. — Marcy tentou argumentar, mas aquela foi uma das poucas vezes que sua palavra não teve poder.

—O problema é que diversão e sem você na mesma frase não existe. Eu só iria querer ir ao baile se fosse com minha namorada. E, como ela, no caso, você, vai cuidar da avó, me não tenho motivos para ir.

—Ah, qual é, Noah. Tem um monte de meninas legais. A Peggy vai e ela é sua melhor amiga.

—Sim, ela é. Mas ela vai acompanhada. Deixa para lá, Marcy, é sério. Está tudo bem. — O menino respirou fundo, meio desconfortável com a discussão, e ajeitou-se na cadeira. — Mas... vamos mudar de assunto. Eu já te contei que estou em outro estágio da fisioterapia? Estou quase andando.

—Mesmo? — A menina perguntou sem muita animação. Ela realmente queria muito que Noah fosse ao baile, mesmo sem ela. — Isso é ótimo.

—Sim, é. — O menino colocou as mãos nas rodas da cadeira e as empurrou, seguindo pelo caminho de pedra que terminava na calçada. — Logo não precisarei mais dessa cadeira e poderei troca-las por muletas. E, depois, acabou. Estarei andando como se o acidente nunca tivesse acontecido... E, então — Noah esticou o braço e segurou a mão da menina, dando uma puxadinha e olhando-a em seu lindo rosto. — Poderemos voltar a olhar para o nosso futuro.

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