Lembranças

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Se Vitor Pillman pudesse definir a noite anterior em uma só palavra, talvez essa fosse "Foda". Ou, se ele pudesse definir com uma frase, ele poderia usar "Puta que pariu, que noite foda, foda, foda, foda, foda, foda." Ou, se ele pudesse usar uma hashtag, provavelmente ele usaria #Morrido. Resumidamente, a noite do menino foi ótima.

Dançar até as quatro da manhã com a menina que ele tanto gostava, junto da melhor amiga, que também estava com alguém que ela realmente gostava, e no meio de um monte de veteranos e não levar um puxão de cueca? Isso era uma maravilha! Parecia até mesmo um sonho.

Quando o menino acordou por volta do meio dia, ele estava acabado. Ainda vestia o smoking que era maior que seu número e estava todo amarrotado. Seu cabelo, ainda fixado com o gel, desafiava a gravidade indo em todas as direções possíveis. A cara amassada e os olhos avermelhados eram sinais de que ele dormiu feito uma pedra, estático.

Vitor olhou para os lados e observou o quarto ainda grogue. Ele encontrou as paredes verdes, a cômoda cor de madeira, o guarda-roupas branco, o chão feito de carpete felpudo e roupas espalhadas para todo o lado. Respirando fundo, ele colocou as pernas para fora da cama e apoiou as mãos em suas coxas. Estava com sede e com uma vontade enorme de mijar. Também sentia fome e o cheiro do almoço que vinha, provavelmente, da cozinha fazia seu estômago roncar e querer abrir a barriga do menino para se arrastar atrás da comida.

Lentamente, as lembranças da noite anterior começaram a brotar em sua mente e, de forma gradativa, um sorriso entortou seus lábios. Logo, o garoto já estava parecendo tão contente quanto uma criança ao receber um balão de bichinho -Aquele que o pai gasta dez pratas pra, meia hora depois, voar e ir embora. Ele esfregou o rosto e espreguiçou-se pondo os braços para cima. Abriu um bocejo e levantou-se.

O menino deixou que a parte superior do terno escorregasse por seus braços e caísse no chão. Ele afrouxou a gravata e a tirou logo em seguida, jogando para o lado, sobre a cama. Com um fundo suspiro, desabotoou a camisa e deixou-a de lado. Em seguida, tirou o tênis, a meia e a calça, ficando apenas de cueca. Caminhou até a cômoda e puxou as gavetas, procurando uma roupa que pudesse vestir. A janela fechada não deixava que o vento frio de pós-natal entrasse no quarto, mas, mesmo assim, o cômodo estava frio, mas ele nem pareceu se importar. Com as roupas e toalha em mãos, seguiu para fora do quarto e caminhou pelo corredor, indo de encontro ao banheiro.

Sob uma ducha quente, reflexões e lembranças vieram mais uma vez à tona. E ele pôde afirmar, sem sombra de dúvidas, que o baile de inverno foi foda.

00:00 - Dancinha animada.

As luzes coloridas que vinham do teto iluminavam a multidão que dançava no centro do ginásio. O DJ, um dos alunos do colégio, estava sobre um tipo de plataforma com sua mesa em frente. Ele balançava a cabeça para trás e para frente, fazendo seus cabelos cacheados chacoalharem, enquanto segurava um headphone ao lado do ouvido. A batida era eletrônica e não havia um parado. Até mesmo a diretora na entrada da festa arriscava alguns passinhos. Formando um círculo, Vitor, Peggy, Yasmim, Drake, Guilherme e Garota-que-guilherme-trouxe-e-que-não-é-importante dançavam feito loucos. Tinham copos nas mãos, mas não eram bebidas alcoólicas.

01:00 - Dancinha menos animada, porém ainda não do tipo "cheiro no cangote".

O som era mais baixo e as pessoas estavam mais calmas. Por isso, dava para conversar, mas, claro, sem parar de mexer o corpo. Guilherme não parecia muito contente, porém ainda conseguia se animar junto da menina que o acompanhava. Vitor não conhecia nenhum dos dois, mas sentia que não gostava muito deles. Aquela intuição de não bater o santo, sabe como é? Mas, mesmo assim, isso não impediu que o garoto se divertisse ao máximo.

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