Os dias mais uma vez voaram junto à brisa fria do outono, que, lentamente, transformava-se em inverno. Logo era dia trinta de outubro e as crianças de todo o país estavam animadas e preparando-se para o dia seguinte: O Halloween.
Todas as casas da rua de Noah estavam enfeitadas para a data comemorativa —inclusive a dele. Seus pais adoravam aquilo, todos os anos eles se fantasiavam e atendiam as crianças que batiam em sua porta para pedir doces. Normalmente, a fantasia deles era bem controversa. Teve um ano em que George vestiu-se de ceifeiro e Mirian de um pacotão gigante de tic-tac. A mãe de Noah não gostava de assustar as crianças, já seu pai...
A fachada da casa do menino era uma mistura do Clipe da música California Gurls, de Katy Perry , com o de Thriller, de Michael Jackson. Havia nuvens de algodão espalhadas por cima do jardim, doces de isopor, árvores coloridas e mastros parecidos com bengalas doces. Entre esta decoração tão colorida, havia zumbis, cabeças de abobora assustadoras, espantalhos, um mini cemitério, foices e caveiras tenebrosas de olhos vermelhos que riam de uma forma metálica e estridente.
Era divertido observar os gostos contraditórios dos pais de Noah misturando-se dentro daquele laço familiar.
A escola também fora mudada. Havia cabeças de abobora, palha e chapéus pretos com fivelas para todo o lado. Bruxas de papel machê pendendo do teto, armários com morcegos recortados e colados, jogadores do time de futebol com máscaras de monstros, aterrorizando os calouros. Todos ali estavam no espírito de um Halloween assombrado e assustador... Menos uma pessoa. Peggy.
Ao invés de trajar roupas escuras, a menina vestia suas típicas vestimentas coloridas. O look daquela sexta feira era um vestido amarelo, meia-calça preta, bota de couro e uma touca rosa prendendo seus cabelos, deixando apenas sua franja e algumas outras mechas para fora.
"Para que se vestir dessa forma? É tão feio e cafona! Sem contar que, se eu fosse me olhar no espelho, eu tomaria um susto toda vez que eu o fizesse", argumentava ela quando Noah implicava.
Até ele estava no clima do Halloween —Tudo bem que, no começo, foi obrigado por sua excelentíssima mãe, mas, depois, até que ele começou a gostar. O menino vestia-se todo de preto, sua blusa estampando uma caveira, e estava até mesmo de touca.
—Por que está vestido de preto? —Havia perguntado Peggy quando se viram ao chegar na escola.
—Luto. —Respondeu ele, emburrado.
—Pelo quê?
—Minha dignidade. —Completou ele e olhou para sua mãe, que, dentro do carro, acenava para ele. — Ao menos fui na ideia do meu pai... se fosse pela mamãe, eu estaria vestido de banana de pijamas.
—Ah, veja pelo lado bom, Noah! Todo mundo hoje está meio Gótico. Parece que estamos tipo em um daqueles eventos que as pessoas marcam no facebook. "Encontro de góticos e Emos depressivos". Se bobear, daqui a pouco estão distribuindo navalhas como brinde.
...
As aulas passaram-se depressa. História, inglês, literatura e física. Todas, menos a última, falaram sobre o dia das bruxas. O que fez com que as aulas parecessem CD's de narrativas de livros infantis. Começou com o professor de história explicando o fundamento e significado daquele dia e acabou com literatura, explicando e mostrando obras referentes àquele dia. Depois veio física, onde Noah teve que aguentar as teorias de Newton pelo... hm... terceiro ano consecutivo?
Na saída da escola, Noah atrasou-se um pouco pois estava na mesma sala de sua namorada. Eles conversaram ali enquanto os corredores esvaziavam, até que Peggy juntou-se a eles, saltitando sobre suas botas que, segundo ela, custaram um de seus rins.
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As vicissitudes da vida
RomanceÉ curioso o que um acidente de carro pode fazer na vida de suas vítimas. É algo com um poder tão destrutivo e impactante, embora tão normal de se ver nos noticiários da televisão. Alguma vez já imaginou o que acontece com as pessoas após o acidente...