Existe algum dia pior do que um em que você é atirado numa piscina e, por não conseguir mexer as pernas, se afoga, tem que ser socorrido pelo melhor amigo, levado para a boda e ser encarado por dezenas de pessoas? Sim, existe. Sabe qual é? O dia seguinte, no qual precisa encarar todas aquelas pessoas na escola.
Noah não contou aos seus pais o que havia ocorrido, não queria que eles ficassem estressados e piorassem tudo. Do jeito que eles são, sua mãe ligaria para os parentes de todos naquela festa e explodiria em uma mensagem de raiva e diplomacia, enquanto que seu pai, que é mais de agir do que falar, caçaria cada garoto que fizera aquilo com seu filho e os mostraria como é ser um cadeirante.
Na volta para casa, dentro do carro, Noah não queria falar com ninguém. Ele ainda tremia sentado no banco da frente. Greg estava ao seu lado, dirigindo e, no banco traseiro, Marcy tentava acalmar seu namorado enquanto que Peggy estava desmaiada, vítima de um copo de Vodka.
Greg não foi direto para a casa de Noah, deu algumas voltas no bairro e decidiu parar em uma loja do Mc Donalds e pedir algo no Drive Thru. Ele queria tentar ajudar Noah a se acalmar, pois do jeito que conhecia o amigo, sabia que ele não iria gostar de ir para casa e encarar seus pais do jeito em que se encontrava.
Sem demora, os pedidos chegaram. Os sacos de papel pardo com desenhos de ofertas e coisas escritas que as pessoas só prestam atenção quando realmente estão entediadas exalavam um cheiro quente e delicioso de hambúrguer, molho especial e batatas fritas. O aroma era tão gostoso e poderoso que conseguira até mesmo acordar Peggy, que, quando viu o estado de Noah e soube o que acontecera, queria voltar lá na festa e esmurrar os imbecis que fizeram aquilo com ele.
Todos comeram BigMcs e tomaram coca-cola com o carro parado no estacionamento do posto de gasolina. Quando terminaram de comer, Noah estava mais calmo e não tremia mais. Marcy secara o garoto com uma blusa que encontrara no carro de Greg, mas suas roupas permaneciam úmidas. O menino mal tinha engolido o último pedaço do hambúrguer, quando falou:
—Vamos dizer aos meus pais que a festa foi na piscina.
E assim aconteceu. Eles chegaram na casa de Noah e estacionaram na garagem. Greg tirou a cadeira do carro e ajudou o menino a sentar-se nela. Então, ambos seguiram na direção da porta, deixando Peggy e Marcy dentro do carro. Greg também estava molhado, o que fortaleceria a ideia de festa na piscina.
—Boa noite, Senhora Martins —Disse Greg. A mulher pareceu se assustar ao ver as roupas dos meninos molhadas, mas nem teve tempo de perguntar o que tinha acontecido.
—Festa na piscina. —Noah Prontificou-se dizer.
***
Na manhã seguinte, o garoto estava gripado. Mirian chegou em seu quarto para acorda-lo, como fazia todas as manhãs, e o encontrou espirrando, sentado na cama. Como não contara a verdade a sua mãe, Noah não pôde faltar a escola. Mirian era super protetora, mas não admitia que um resfriado fosse motivo de faltar ao colégio —ainda mais no meio do ano letivo.
A mãe dera ao menino uma colherada de xarope sabor framboesa e então o ajudou a vestir-se para o colégio. George chegou poucos minutos depois, a cara amaçada e as roupas amarrotadas, como se ele tivesse acordado, mas acabado dormindo de novo.
—E aí, garotão! Pronto para mais um dia de aula?
—Você não faz ideia...
Seu pai o levou de carro até o colégio e, como de costume, ele seguiu pelo caminho de cimento que cortava o jardim da escola.
Noah se sentiu como no primeiro dia de aula pós acidente. Todos revezavam entre olhar para ele e cochichar —alguns até riam descaradamente. E por isso, mais uma vez, o menino estava com a intensa vontade de sumir.
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As vicissitudes da vida
RomanceÉ curioso o que um acidente de carro pode fazer na vida de suas vítimas. É algo com um poder tão destrutivo e impactante, embora tão normal de se ver nos noticiários da televisão. Alguma vez já imaginou o que acontece com as pessoas após o acidente...