Era dia primeiro de dezembro, uma terça feira, e Noah acordava para ir à escola. Seu dia seria como a maioria dos outros. Depois da escola, iria para a fisioterapia. Da fisioterapia para a casa e, depois, ficaria de bobeira conversando com os amigos pelo notebook. Por esse motivo, desta vez, focarei em uma outra pessoa. Vitor Pillman. O pequeno jovem que fora flechado pelo cupido e está completamente apaixonado por Peggy, nossa doce —e às vezes estranha — garota oriental.
A primeira coisa que se deve saber sobre Vitor é que ele não vivia só nesse mundinho de querer pegar Peggy (isso soou engraçado). Quando chegava em casa, a coisa era bem diferente. Uma outra realidade. Seus pais se divorciaram quando o garoto era mais novo e isso desmoronou por completo a relação que aquela família tinha. Talvez tivesse sido a melhor coisa a fazer, pois as brigas chegavam a ser perturbadoras e, algumas, acabavam com a polícia batendo na porta da casa.
A mãe de Vitor se chamava Vanessa Pillman. Uma mulher inteligente, bela e esforçada. Depois de romper seu casamento, foi morara com sua mãe, a avó de Vitor, e ficou lá por alguns meses até conseguir alguma casa para se mudar. Ela conseguiu a guarda das crianças depois de um turbulento processo judiciário. Vanessa sempre tentou ser a melhor mãe possível, mas, sozinha e tendo de sustentar dois filhos sem pensão, pois o ex-marido se recusava a pagar, ela entrou em depressão. Precisou de acompanhamento médico e até mesmo de tomar remédios, até que se estabilizou novamente. No entanto, não por muito tempo. A sanidade da mulher tinha seus altos e baixos.
O pai do menino atendia pelo nome de Stuart Pillman. Ele vinha de uma linhagem de militares e sua profissão não podia ser diferente do que soldado. Pillman serviu muitos anos no exército dos estados unidos e teve muitos momentos de glória ali. Mas, quando chegava em casa, não possuía a mesma honra que no campo de batalha. Era um homem machista, preconceituoso e homofóbico. Tenho certeza que aquele cara só não era racista porque era negro. Stuart gostava de mostrar quem era que mandava na casa. Não permitia que esposa e filha usassem vestimentas acima dos joelhos e muito menos admitiria que seu filho fosse gay. Um dia, quando Vitor tinha menos de oito anos, seu pai olhou no fundo dos olhos dele e disse que, caso ele crescesse e virasse homossexual, ele o mataria. A aparência, os gostos e a voz aguda do menino não ajudavam muito a esquivar da paranoia do pai.
Vitor também tinha uma irmã. Laryssa Pillman. O garoto costumava a chamar por outros nomes, como demônio ou capeta, e isso era porque a garota vivia para atormenta-lo. Ela tinha a mesma idade de Noah e cursava a mesma série, no entanto, em um colégio diferente. A mãe deles achou que seria melhor assim, já que, por onde se esbarrassem, havia discussão. Mas nem sempre fora assim. Houve uma época em que os dois se davam muito bem. Como deve estar pensando, isso foi antes do rompimento dos pais.
Naquele dia, ao chegar na escola, Vitor caminhou pelos corredores de cabeça baixa. Ainda estava um pouco chateado com seu fim de semana. Ele fora visitar seu pai junto de sua irmã e, como sempre, não foi nada bom. Seu pai o pediu o telefone e o vasculhou em busca de indícios de "gayzicea". Por sorte, o menino apagara todas as imagens que poderiam o fazer levar uma surra. Já acontecera uma vez e ele não queria apanhar de novo. Sua irmã não ajudou no fim de semana também. Sempre que possível, aproveitava algo que o pai falava para atingir o garoto.
Ao chegar em seu armário, ele errou a senha duas vezes. Era normal de acontecer. Quando acertou, tirou seu livro de biologia e atirou ali dentro sua mochila. O interior do armário do menino era bem enfeitado. Fotos de alguns amigos, principalmente de Yasmim, de alguns cantores, como Katy Perry, e alguns desenhos mal feitos de roupas. O garoto tinha um grande afeto pelo mundo dos famosos, das roupas, das músicas e de outras coisas que rodeassem o mundo pop. Vitor enfiou o livro debaixo do braço e fechou a porta do armário, encontrando, de repente, Yasmim parada ao lado dele com um sorriso gigantesco e mãos juntas frente ao corpo.
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As vicissitudes da vida
RomanceÉ curioso o que um acidente de carro pode fazer na vida de suas vítimas. É algo com um poder tão destrutivo e impactante, embora tão normal de se ver nos noticiários da televisão. Alguma vez já imaginou o que acontece com as pessoas após o acidente...