Os olhos avermelhados e inchados do garoto encaravam a tela do notebook que estava sobre suas pernas. Seus dedos estavam sobre as teclas, porém parados, sem digitar. Ali, projetava-se a imagem da página de uma rede social do garoto. Em cima, onde se encontravam as notificações de mensagens, a foto de marcy aparecia com um número ao lado de seu nome. Ela ainda tentava falar com ele. Mas ele não queria falar com ela.. Estava com os sentimentos e a cabeça perturbados. Ele a amava, mas sentia-se um lixo por isso. Um otário. Ela mentiu para ele, dizendo que iria para a avó e não foi. Isso não é tão grave, mas o problema é: Se ela não estava lá, para onde ela foi? Dois dias em um lugar que não é a casa dela ou a casa da avó.
Enquanto o garoto olhava para a tela do computador e encarava o número de mensagens de Marcy só crescer, ele refletiu a respeito deles. A respeito de seu relacionamento com aquela menina. E ele chegou à conclusão de que ele era um...
—Idiota...— Ele disse para si mesmo. —Como eu fui idiota. — As duas mãos dele esfregaram o rosto, ele respirou fundo e, em seguida, fechou o computador, deixando-o em seu colo.
Noah havia notado que Marcy ficara estranha depois que ele sofrera o acidente. Muito menos presente, mais fechada, parecia que evitava ficar perto dele. Era como se ele a incomodasse, ou o fato de estar junto dele a fizesse sentir algo que a agonizasse. Noah não sabia explicar bem como sabia dessas coisas, ele simplesmente sentia isso dentro de si, mas não expôs ou a chamou para conversar a respeito. Ele achava que fosse por conta de suas pernas. Ele não andava mais e isso poderia estar atormentando Marcy. Ver o namorado neste estado, sobre uma cadeira de rodas, machucaria o coração de qualquer garota que realmente amasse seu parceiro. Precisaria de tempo para aceitar e acostumar. E ele acreditava que fosse isso, de verdade. Mas, como pôde ver, estava enganado.
A cabeça do menino girou e ele encarou seu quarto ponta a ponta. Ele não estava se sentindo bem. Na verdade, péssimo. Já havia chorado tudo o que podia. As lágrimas secaram em suas bochechas inchadas, seus lábios secaram e racharam e seu nariz avermelhou-se. Noah não tinha o hábito de chorar, mas aquilo arrasou com ele. Aquela garota era o que ele mais amava no mundo. Existiam seus pais também, mas falo em um afeto mais do tipo Namorado-namorada ou marido-esposa. Ele realmente esperava casar-se com ela quando terminasse a faculdade. Ter um ou dois filhos, viver em uma casa espaçosa, se aposentar e, quando ele estivesse cheio de rugas e pele flácida, ela estar lá, sentada ao lado dele em uma cadeira em frente ao mar, segurando sua mão.
Seus olhos pararam na janela e ele observou o céu acinzentado. A árvore seca em frente à janela balançava seus galhos finos quando o vento passava. Mais atrás, as casas do quarteirão estendiam-se pela rua repleta de neve, até a curva ao fim. Todas as residências eram bem parecidos. Dois andares, gramado coberto de neve na frente, telhados laranjas que agora eram brancos. Por alguma razão, aquela paisagem o chamou bastante atenção. Tanto que ele ficou a encarando por uma hora, até que adormeceu.
De repente, o menino havia voltado no passado. Estava em uma sala de estar cheia de pessoas. Ele, assim como todos ali, segurava um copo vermelho com bebida. Era a primeira festa de ensino médio que Noah ia. Ele ainda era calouro. Uma música, mas parecia distante, assim como a voz e as risadas das pessoas. Tudo mexia-se lentamente e, às vezes, as coisas tornavam-se borrões.
—Irmão! — Uma voz o chamou, mas ele não deu muita atenção. Até que chamou novamente e ele se virou. Era Greg. Ele também segurava um copo de bebida. Vestia um casaco do time de futebol americano do colégio e sorria largamente. — Curtindo a festa?
Noah respondeu alguma coisa que nem ele sabia o que era, então virou-se para a frente. Foi quando um clarão pareceu iluminar a sala. Um brilho alaranjado surgiu do outro lado da sala e, dele, uma menina formou-se. Estava sentada em meio às líderes de torcida, conversando e sorrindo. Seu sorriso era a coisa mais linda que Noah já vira. Seus cabelos cor de ferrugem desciam em ondas longas sobre seus ombros. Ela usava pouca maquiagem, embora, para o menino, ela não precisasse nem mesmo desse pouco.
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As vicissitudes da vida
RomanceÉ curioso o que um acidente de carro pode fazer na vida de suas vítimas. É algo com um poder tão destrutivo e impactante, embora tão normal de se ver nos noticiários da televisão. Alguma vez já imaginou o que acontece com as pessoas após o acidente...