Capítulo 1

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Há três meses atrás...

Às vezes me pego pensando nas coisas que fiz, são coisas que uma garota normal de dezenove anos não faria, coisas que não me importo de fazer novamente, essas coisas me cobraram passar três noites na cadeia por perturbação da paz, vandalismo e falsidade ideológica. Já fiz várias merdas, mas é isso que faço, não tenho mais nada nesse mundo, não tenho vocação pra trabalhar e ser certinha, a única coisa que nasci pra fazer é ser como uma espinha chata no rosto das pessoas. Não me importo com elas, quero que elas sofram como eu sofri, quero que elas sintam o que eu senti quando minha mãe morreu, quero que elas sintam cada murro que meu pai me dá toda noite que chega bêbado.

Me ajeito no pequeno sofá da sala cobrindo minhas pernas com o cobertor, o vento do verão da Califórnia entra pela janela fazendo meus braços se arrepiarem. Uma corrente de tremor acorda o meu corpo quando escuto a porta da frente bater, e vejo a figura de meu pai entrar na sala sentando na poltrona azul velha ao meu lado. Pela expressão do seu rosto, vi que bebeu muito, é assim todas as noites, ele sai para beber e às vezes quando chega faz o que quer comigo. A sua respiração aumenta e percebo o seu olhar em mim.

-Cadê o seu irmão Elly?- pergunta. Meu irmão Niall, saiu com os amigos e não sei onde foi, se ele soubesse o que meu pai faz comigo, nem sei o que faria.

-Ele saiu.-olho para o meu celular e finjo mexer nele.

-Ótimo.- vejo-o se levantar e vim em minha direção. Sei que ele vai tentar fazer algo comigo, mas estou farta disso, e eu nunca o enfrentei antes.

Ele segura meus braços fortemente e me faz levantar.

-Não, me solta.- grito.

-Cala a boca.- cospe. Pego o jarro de flores da mesa ao meu lado e jogo contra a sua cabeça, ele geme de dor e é tempo suficiente de pegar meus all strars e dar o fora dali.

Cubro minha cabeça com o capuz da blusa e corro até a avenida principal, onde tem pessoas. Paro na esquina para recuperar o fôlego e os meus olhos viajam até uma grande concentração de pessoas na praça. Parece ser um evento de música eletrônica, ouvi dizer que ia ter, mas não sabia que ia ser hoje.

Pulo a cerca sem os seguranças idiotas verem, é claro, e caminho para a multidão de pessoas sem ser vista. Isso deve ser um tipo de festival inútil onde pessoas medíocres riquinhos metido à besta, gastam o seu tempo e dinheiro em bebidas e mulheres, enquanto outros não tem o que comer. Tenho ódio dessas pessoas, tem o suficiente, e reclama do que tem no prato.

-Hey.- Uma voz masculina diz. Um homem alto, caminha até mim, mesmo a noite, seus olhos são como duas esmeraldas brilhantes, ele tem o cabelo encaracolado até o ombro, tatuagens que cobrem o seu braço esquerdo e lábios incrivelmente rosados. Um frio na minha barriga sobe quando percebo que foi ele que me chamou. Porra. -Eu vi você pulando a cerca.- Diz num tom frio, com um sotaque britânico.

-E o que você tem a ver com isso?- Cuspo. Ele ri mostrando seus dentes brancos, nem se importando com as palavras duras que disse pra ele. Continuo andando, mas ele agarra no meu braço.

-Espera. Qual seu nome?

O que um homem desse quer comigo?

-Pra quê você quer saber o meu nome?- Digo eu revirando os olhos. Odeio esse tipo de pessoa, olho para o seu corpo, coberto de roupas caras e um relógio de ouro no pulso, com certeza é filho de um político importante, ou um empresário riquíssimo talvez, mas rico ele é.

-Só quero saber o seu nome.- Fala fazendo beicinho.

-Elena, meu nome é Elena.- Solto do seu aperto e volto a andar, batendo meu pé mais forte contra a grama.

-Não quer saber o meu?- Ouço-o gritar. Viro para olhar para ele e ele me olha mordendo os lábios. Levanto as sobrancelhas para ele me dizer e ele faz.

-Sou o Harry.-diz fazendo eu dar as costas pra ele e entrar no meio das pessoas. Harry? Isso é nome de nerd. Só pode ser um nerd rico e pervertido.

-ELLY- olho para o lado e vejo Luke vindo em minha direção, ele usa suas jaquetas de couro como sempre e um ray ban por causa das luzes que vem do palco. -Como conseguiu entrar aqui?

-Pulei a cerca.- digo. Luke é um cara que conheci no último ano do colegial, o pai dele é dono da metade da cidade, mas odeia falar do seu pai e negócios da família, o que eu não entendo o que um cara tão rico, anda comigo e vive fazendo merdas. -E você?

-Estava com o seu irmão.-diz coçando a parte de trás do pescoço. -O que tá rolando? O seu pai...

-Não quero falar disso.-cuspo passando por ele, de longe, entre as pessoas, vejo a cabeça loira do meu irmão e vou até ele. Luke me segue.

-Elena, o que faz aqui?- a puta da Jasmine pergunta. Ele se acha só porquê a mãe é estilista da Luxe Clothes, uma das lojas de roupas mais badaladas de Beverlly Hills, e que já conheceu vários famosos, pior que isso, é que ela namora o meu irmão.

-E te importa o que eu faço e deixo de fazer?!- digo rudemente. Ela arregala os olhos e se vira para meu irmão.

-Não sei o que eu te fiz para me tratar assim.- diz com a voz chorosa. Na frente do Niall ela é a maior santinha, longe dele é a mais vadia.

-Você nasceu, foi isso que você fez.-reviro os olhos.

-Já chega vocês duas.-meu irmão resmunga. É tão apaixonado por ela, mas nem sabe a verdadeira pessoa que ela é.

-Qual é a desse lugar?-pergunto para Luke olhando para um palco enorme, com desenhos e rostos coloridos. Bizarro.

-É um festival de música eletrônica, nunca ouviu falar do Tomorrowland?- diz.

-É claro.- falo encarando-o. -Isso tá uma merda.- resmungo. Avisto um lugar de comprar bebidas, e observo que todas as pessoas estão ocupadas demais olhando para o palco. Caminho pra lá, mas escuto a voz do Luke.

-Onde vai?- grita de longe.

-Fazer uma coisa legal. - grito de volta sorrindo maliciosamente. Chego no local e uma vejo uma mulher baixa limpando o balcão. Uma pilha de garrafas de licor, estão empilhadas alinhadamente no balcão. Dou uma última olhada na área antes de colocar três garrafas delas dentro da minha jaqueta. Aquela onda de adrenalina que tanto adoro preenche o meu corpo a cada passo rápido que dou saindo daquele lugar. Pulo a cerca e volto para a avenida principal, Joe está deitado no seu papelão como de costume, ele se esquenta com o cobertor que eu lhe dei, logo ele escuta o meu passos rápidos. Sorrindo pra mim radiantemente.

Queria poder ajudá-lo, já tem 52 anos e nunca sai das ruas, ele é um velho legal, apesar de odiar velhos, ele é legal. Sento ao seu lado e lhe mostro sorrindo a garrafa de licor que acabei de roubar.

-Você roubou isso? - pergunta apontando para a garrafa. Joe odeia quando roubo.

-Talvez. - dou os ombros e sento no papelão ao seu lado.

-Sabe que eu odeio quando você rouba Elly. - diz e abro a garrafa tomando o primeiro gole. O licor passa ardendo pela minha garganta deixando-me desnorteada.

-Quando é pra você, é necessário roubar.- ele sorri e toma um gole da sua garrafa.

-Esqueci de te contar. - encaro-o. -O governo vai expulsar todos os moradores de rua dessa área. - o sorriso do seu rosto some.

-Como assim?

-Vou ter que me mudar. - ele me olha.

-Eles não podem fazer isso Joe. - minha voz se altera. Ele mora nessa rua faz tanto tempo, ele não tem para onde ir. -E você vai se mudar pra onde?

-Não se preocupe, vou ver se tem um lugar pra ficar no abrigo.

-Sabe que se não fosse o meu pai, deixaria você ficar lá em casa, não sabe? - ele sorri de lado.

-É uma boa garota Elly, se não fosse as coisas que faria, votaria em você para presidente. - rio.

ELENA | H.S fanfiction |Onde histórias criam vida. Descubra agora